Cadeira de rodas: a estranha – Lançamento de livro de Marcelo Xavier
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“A estranha” é o mais recente lançamento do premiado escritor/ilustrador Marcelo Xavier
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Com
diversos livros publicados, recebeu os maiores prêmios que um escritor ou
ilustrador pode receber no Brasil, como o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do
Livro, Prêmio APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte, entre outros.
Estreou como autor para crianças com o livro Truques Coloridos, que apresenta
cenários e personagens criados com massinha de modelar.
Há
dez anos, o escritor descobriu que era portador de uma doença degenerativa dos
neurônios motores, a esclerose lateral amiotrófica, conhecida como ELA. No
livro que Marcelo Xavier lançou hoje, 18/10, em Belo Horizonte, onde vive, ele
narra com sensibilidade como foi a chegada da doença:
“Passei 47 anos andando, correndo,
dançando, pulando, vivendo normalmente até que as escadas foram ficando mais
altas, o prato no self service mais pesado do que indicava a balança, as
distâncias se espichando, as ladeiras se inclinando mais e mais…”
Alguns
anos depois foi a vez de a cadeira de rodas entrar na vida de Marcelo, como uma
estranha. Todo esse processo é narrado pelo autor na forma poética e aguçada
que caracteriza sua escrita.
Estive
presente ao lançamento do livro, que foi marcado por uma intervenção criativa e
artística. Fomos recebidos com uma bela e farta mesa de café da manhã, Marcelo
autografou livros, o grupo Crepúsculo se apresentou, tudo isso no quarteirão
fechado da Rua Piauí, no Bairro Santa Efigência, onde se localiza a livraria
Asa de Papel, responsável pelo lançamento. Após, o escritor tomou a frente de
uma caminhada pela acessibilidade.
Eram vários os cadeirantes presentes, entre muitos andantes, adultos e crianças, que percorreram vários quarteirões do entorno, identificando os muitos desafios e obstáculos para pessoas com deficiência. Esses locais foram marcados com um desenho de caveira, símbolo que remete a envenenamento ou morte, indicando o papel que essas desatenções do poder público ou da comunidade pode representar na vida da pessoa que vive a diferença no próprio corpo.
Estou no lançamento do livro do escritor Marcelo Xavier, que está a meu lado, segurando a Tina Descolada, que não perde uma.
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Eram vários os cadeirantes presentes, entre muitos andantes, adultos e crianças, que percorreram vários quarteirões do entorno, identificando os muitos desafios e obstáculos para pessoas com deficiência. Esses locais foram marcados com um desenho de caveira, símbolo que remete a envenenamento ou morte, indicando o papel que essas desatenções do poder público ou da comunidade pode representar na vida da pessoa que vive a diferença no próprio corpo.
As
reações dos que acompanhavam a caminhada pela acessibilidade demonstravam que o
evento estava cumprindo seu papel de sensibilizar e educar. As pessoas ficavam
chocadas com situações que até então não tinham observado: passeios em péssimas
condições, poste no meio do caminho, degrau na entrada de órgão público, rampa
de um lado da calçada, mas não do outro, e por aí vai.
Durante a cadeirata (passeata em cadeira de rodas), os obstáculos nas vias públicas eram marcados com desenhos de caveiras e mensagens poéticas |
Marcelo
Xavier e as pessoas que o assessoraram indicam com este evento que se pode
utilizar a arte e a criatividade para auxiliar as pessoas a se constituírem
como observadores da realidade, a se indignarem diante dos obstáculos a uma
vida plena por parte das pessoas com deficiência e a se mobilizarem para
transformar a situação.
O
livro
Cheguei
em casa curiosa para ler A Estranha, o que fiz em uma sentada, devorando as
frases tão belas quanto instigantes. Marcelo tece seu discurso comunicando
sentimentos, impressões, reflexões de forma a traduzir aqueles incômodos que
certamente permeiam nossas vidas de cadeirantes, mas não temos a habilidade que
ele tem para colocar tudo em palavras. Quer ver?
“Primeiro foram os espaços da casa que eu
tive que reconhecer. Ao ficar a maior parte do tempo sentado, minha linha de
visão desceu ao nível do olhar de uma criança. Os móveis cresceram de tamanho,
o teto ficou mais alto e as janelas, inacessíveis. Descobri que a cidade se
mudara de mim.”
Mas
não, o texto não tem o tom lacrimoso, nem pesado; o autor não se coloca no
lugar de vítima. O tom é bem-humorado, otimista, mas não piegas. Não há
clichês. Há, sim, boas tiradas, crítica social e autocrítica, e a obra dá lugar
à celebração da vida, seja como for que ela se apresente.
Se a ELA limita os movimentos de Marcelo, não limita sua vida. Ele criou um jeito bem singular de "autografar" os livros, usando um carimbo para registrar as iniciais de seu nome. |
Todas
as imagens pertencem ao acervo pessoal da Cadeira Voadora.
Fonte: Blog Cadeira Voadora
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