Rio da Paralimpíada sofre com calçadas esburacadas e acessibilidade precária

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No dia 21, comissão da Alerj entregará ao governador Luiz Fernando Pezão mapeamento dos principais problemas detectados nos pontos turísticos e instalações urbanas

GABRIEL SABÓIA

Wladimir sofre com as calçadas intransitáveis do Grajaú, de onde sai com seu irmão cadeirante, Will, que dá aula no Andaraí
Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Rio - O prazo é curto, mas o desafio é grande. Falta menos de um ano para que número recorde de pessoas com algum tipo de deficiência aporte no Rio para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos — seja para competir, ou mesmo para acompanhar as competições. A acessibilidade da Cidade Maravilhosa estará à prova sob a vigilância de olhares internacionais.

Não por acaso, dia 21, Dia Nacional da Pessoa com Necessidades Especiais, a comissão destacada da Alerj entregará ao governador Luiz Fernando Pezão mapeamento dos principais problemas detectados nos pontos turísticos e instalações urbanas. Apesar dos tímidos avanços nos últimos anos, como adaptações na rede hoteleira, o estado de conservação das calçadas e o número diminuto de táxis adaptados ainda são vistos como ‘calcanhares de Aquiles’, aponta a deputada Tânia Rodrigues (PDT), coautora do levantamento.

Chegar ao Rio é uma aventura desagradável para cadeirantes. Ao sair do saguão de desembarque dos aeroportos, o turista pena até encontrar veículo adaptado para o traslado até o local em que ficará hospedado. Isto porque apenas 52 táxis (de uma única cooperativa) estão capacitados. Nenhum à espera de turistas, em aeroportos ou rodoviárias.

A legislação que vigora hoje classifica esse transporte como “fretamento” e, justamente por isso, não existem os incentivos dados a taxistas para compra de carros, pagamentos de impostos e realização de adaptações. Como o investimento é considerado alto e o retorno costuma ser baixo, há pessimismo em relação ao aumento dessa frota. 

Em Londres, sede dos Jogos de 2012, eram cerca de 400 táxis adaptados à disposição do público. "Dobraria minha frota caso fossem dadas às cooperativas condições semelhantes às que têm os taxistas”, afirma o dono da Especial Coop, Ronaldo João.

Ele explica que hoje, por conta das características especiais, a compra de veículos de fretamento não prevê isenção de impostos como IPI e ICMS. “Por convenção, os valores da bandeirada e da quilometragem são mais altos. A vistoria de cada um dos veículos custa R$ 816,17; enquanto a dos táxis sai por apenas R$ 67,90. "Acredite se quiser, até hoje não temos locais destacados para desembarques no Centro”, explica ele, que sonha com reduções nos valores até a Olimpíada.

Não obstante, o serviço se torna para poucos. Que o diga o portador de hemiplegia (paralisia em um dos lados do corpo) Will Ribeiro. Morador do Grajaú, ele conta com a ajuda do irmão para chegar ao Morro do Andaraí, onde dá aula. A caminhada de pouco mais de dois quilômetros é árdua, com direito a tropeços nas pedras portuguesas (os maiores obstáculos no caminho de um cadeirante) e muita força para vencer os aclives da comunidade.

“É uma aventura. Em dias de chuva fica quase impossível”, diz Will, enquanto Wladimir emprega força para vencer um meio-fio. Tão ruim quanto as pedras portuguesas, só mesmo os paralelepípedos, encontrados aos montes pelo Centro.

O bairro de maior circulação da cidade (e de potencial histórico-turístico) é citado pela deputada como o “pior do Rio”. “Faltam rampas em quase todas as ruas, existem calçadas estreitas e pedras portuguesas aos milhares”, avalia.
Para ela, o legado da Copa do Mundo foi falho, e o entorno do Maracanã sintetiza o mau planejamento. “A passarela que liga o metrô ao estádio tem inclinação de mais de 50 graus. Ninguém consegue subir sozinho em uma cadeira de rodas”, explica.

Quartos adaptados quadruplicam

Mas nem tudo é motivo para lamentos paralímpicos. No que diz respeito à acessibilidade da rede hoteleira e recepção, o Rio evoluiu. Desde o ano passado, a Empresa Olímpica Municipal vem realizando treinamentos e blitzes em aeroportos para indicar os pontos a aperfeiçoar.

Além de noções de traquejo e orientações para recepção dadas aos funcionários desses locais, o projeto coordenado pela gerente de sustentabilidade do Comitê Olímpico, Tânia Braga, colhe frutos: os antes pouco mais de 20 quartos adaptados no Rio, em 2008, hoje chegam a 80 e podem superar 100 até o próximo ano. Alguns deles ficam no Arcos Rio Palace, na Lapa. O número ficaria bem próximo ao da Olimpíada de Londres.

“Como não há obrigatoriedade nas adaptações, muitos hotéis não as fazem por conta dos custos altíssimos, quando se fala em alargamento das portas, por exemplo”, explica a deputada. Enquanto as cadeiras têm, em média, 80 centímetros de largura, a portas raramente excedem os 70 centímetros. As adaptações, além das portas, incluem a colocação de barras de segurança nas paredes, a troca de maçanetas das portas, o aumento dos boxes e a reavaliação das profundidades das banheiras, além da altura das camas.


De acordo com a legislação, até mesmo os hotéis com fachadas tombadas pelo patrimônio histórico podem contar com alterações em nome da acessibilidade. Seus interiores também podem ser alterados.

Cratera em passeio no Centro, bairro menos acessível
Foto: Severino Silva / Agência O Dia

No Arcos Rio Palace, na Rua Mem de Sá, na Lapa, rampa na entrada auxilia o acesso de cadeirantes
Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Nos banheiros, notam-se algumas alterações: piso nivelado até o boxe; barras de apoio na privada e sob o chuveiro; torneiras ao alcance da mão
Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Fonte: O Dia

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