Após sofrer acidente, ribeirão-pretana vence barreiras por meio do esporte

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Mariana Garcia sofreu um acidente de moto quando tinha 15 anos e hoje, com ajuda da família, amigos e do esporte, supera limitações e obstáculos impostos pela vida



Por Cleber Akamine
Ribeirão Preto, SP

Orgulhosa de seus feitos, Mariana exibe medalhas conquistadas nos Jogos Regionais (Foto: Cleber Akamine)

Aos 15 anos, Mariana Garcia vivia a sorrir. Adorava sair com as amigas, frequentava academia e estudava como qualquer adolescente da sua faixa etária. Em novembro de 2009, porém, um acidente de trânsito transformara sua vida. Após cair da garupa de uma moto, ficou internada durante 22 dias e, ainda no hospital, soube que a lesão na coluna (T4) a deixaria sem o movimento das pernas, mas que poderia ser revertida em seis meses. Acreditando naquilo, passou a se dedicar nas sessões de fisioterapia. O tempo foi passando e, com ele, a crescente angústia de não voltar a andar.

- Levei os primeiros seis meses numa boa, achando que melhoraria. Quando deu um ano e vi que não estava dando resultado, comecei a ficar mal. Eu pensava: e agora, nunca mais vou andar? Como vai ser minha vida?

Os convites para as baladas já não tinham o mesmo apelo. Sair de casa e se expor a conceitos e preconceitos das pessoas, seja com as amigas, seja com as famílias em um shopping, a deixava triste, mal.

- Não queria sair de casa e ver as pessoas andando - resumiu Mariana, antes de descobrir que o esporte reservava um outro sentido à vida dela. Foi na água, na piscina da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, em Brasília, que ela descobriu um outro caminho.

As aulas de natação que ela tivera quando criança, sem poder contar com a propulsão das pernas, já não faziam sentido num corpo que não contava com a força das pernas. Ela teve que aprender novas técnicas e, mais do que isso, entender que tudo seria diferente dali em diante. Mais difícil, mais desafiador.

- O esporte mudou a minha vida. Eu era uma Mariana antes do acidente, e sou outra Mariana, completamente diferente depois. Depois que fui apresentada aos esportes no Sarah, conheci outros cadeirantes, comecei a viajar e notei que existiam casos ainda mais graves do que o meu, e que aquilo não deveria ser uma barreira na minha vida - disse Mariana, que passou pela internação do Sarah em duas oportunidades: a primeira passagem teve 30 dias e a segunda de 45, suficientes para mostrá-la que a vida não seria pior ou melhor, mas sim com outro sentido.

No hospital, Mariana tinha uma planilha a ser seguida. Refeições regradas, horários para as atividades desportivas, encontros, trocas de experiências. Tudo aquilo a deixava melhor, porém, o fim das internações a obrigou deixar a Rede Sarah. Deixou o hospital, mas seguiu com as atividades físicas. Passou a nadar com mais frequência e dedicação, visando competições. Em pouco tempo, destacou-se e ganhou medalhas e troféus de Jogos Regionais, Abertos e outras tantas competições realizadas em cidades vizinhas.

Os amigos, e principalmente a família, deram o suporte necessário para que ela deixasse os medos para trás e desenvolvesse uma habilidade rara para a natação, o paraciclismo, a ponto de reencaminhá-la dentro de uma vida social.

- No começo foi difícil, mas minha cabeça abriu com o esporte. Hoje vou ao shopping, ao cinema, saio com minhas amigas. Ainda estou me adaptando a muitas atividades, mas o importante é não desistir. A cabeça tem que ser mais forte e, graças ao esporte, não cai em depressão - comentou a campeã nos 100m livre e prata nos 50m costas dos Jogos Regionais, disputados em Mococa, interior de São Paulo, em julho.

Novos ares

Em quatro meses, Mariana Garcia
conquistou quatro medalhas em
duas etapas da Copa Brasil
(Foto: Cleber Akamine)

Das amizades, Mariana descobriu um novo esporte: o paraciclismo. De tanto postar fotos nas redes sociais, o amigo José Alberto Gallan, de Pirassununga, chamou sua atenção.

- Certa vez decidi perguntar a ele como funcionava e o que precisava para treinar, até receber o convite do técnico Dênis Anderson Gonçalves, da Associação Paradesportiva Paulistana, para integrar a equipe de Santa Cruz das Palmeiras - comentou Mariana, agora identificada como paraciclista. Em quatro meses de aulas e treinos, ela conquistou quatro medalhas em duas etapas da Copa Brasil.

Foi prata e bronze em Brasília nas provas de resistência e contra-relógio, respectivamente, e bronze nas duas categorias, em Penha, Santa Catarina.

- Minha ideia é participar dos Jogos Paralímpicos de 2020. Vou treinar para isso. Nesta Paralimpíada, o Brasil já tem uma representante, Jade Martins. Para isso, estou batalhando e correndo atrás de patrocinadores - comentou Mariana Garcia, que usa uma handbike emprestada pela equipe, de ferro, pesando 11kg a mais do que as nacionais.

Uma campanha na internet tem captado recursos para que ela consiga adquirir uma nova handbike, possibilitando a ela competir num nível mais próximo de suas concorrentes.
Mariana Garcia espera conseguir uma handbike que a deixe no nível de suas concorrentes (Foto: Cleber Akamine)

Lais Souza

Mariana ficou feliz ao saber que a ex-ginasta Lais Souza estava acompanhando a campanha para conseguir a handbike (Foto: Divulgação)
Na última semana, em um evento promovido por um shopping da cidade, Mariana encontrou a ex-ginasta Lais Souza. As duas participaram da programação do "Experimentando diferenças", dinâmica em que as pessoas testam suas habilidades em esportes paralímpicos.

Mariana ficou feliz ao saber que a ex-ginasta Lais Souza estava acompanhando a campanha para conseguir a handbike (Foto: Divulgação)

As duas conversaram sobre o processo de recuperação, as evoluções clínicas e o desenvolvimento no esporte. Durante o bate-papo, Mariana ficou feliz ao ver a reação positiva de Lais Souza, ao ser comunicada sobre a campanha de arrecadação para a compra da handbike.

- Ela demonstrou entusiasmo ao falar da corrente na internet. A Lais é batalhadora e vive uma situação ainda mais delicada. É um tapa na cara que nos ajuda e nos ensina a não desistir tão facilmente das coisas. Ela representou o Brasil. É mais uma motivação, um exemplo de superação - resumiu.

Esperança viva

Mariana acredita na recuperação do movimento das pernas. O tratamento com células-tronco, por exemplo, surge como esperança na vida da ribeirão-pretana, que prefere pensar de forma positiva a desistir da luta.

- Em novembro completo seis anos de lesão. Estou me adaptando, praticando esportes, porque o importante é não desistir. Se um dia eu tiver que passar pelas células-tronco, vou estar mais preparada do que uma pessoa que não faz atividade física. É o que eu penso - comentou.

Mariana Garcia sonha com os Jogos Paralímpicos de 2020 (Foto: Cleber Akamine)



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