Corrida pela cura de lesões na medula reúne centenas em Brasília
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Prova
ocorreu em 33 países simultaneamente na manhã deste domingo
por Maria Rita Horn*
O medalhista
Vanderlei Cordeiro de Lima, o ex-BBB Fernando e Daniela Cicarelli Foto: Marcelo Maragni / Divulgação |
Se na Wings For
Life World Run – prova de corrida disputada ao mesmo tempo em 33 países do
mundo na manhã deste domingo – a linha de chegada pode ser várias, a
qualquer quilômetro do percurso, o objetivo da iniciativa é apenas um: edições
ocorrerão anualmente até que se descubra a cura das lesões da medula espinhal. Como?
Todo o dinheiro arrecadado nas inscrições vai para pesquisas na área.
– Não é só
para chamar a atenção para a causa. É uma forma de como resolver, porque o
dinheiro está indo todo para o problema. Aqui, a gente está indo direto na
fonte – defende Fernando Fernandes, atleta de paracanoagem que sofreu um
acidente de carro há seis anos e perdeu o movimento das pernas por uma lesão na
medula espinhal.
Não à toa o ex-BBB
é um dos embaixadores da prova e participou da corrida que, no Brasil, ocorreu
na capital federal.
– O esporte
sempre fez parte da minha rotina, mas depois do meu acidente, vi que era a
ferramenta que precisava para mudar minha vida, mas também para mudar a vida de
todo mundo. Pensei: "tô numa cadeira de rodas, numa posição que todo mundo
me vê como um incapaz, o que eu vou fazer agora para quebrar essa barreira,
para quebrar esse paradigma da sociedade? Esporte. Fazer o que ninguém espera
que eu faça. Vou lá saltar de paraquedas sozinho, vou andar de motocross duas
rodas, esquiar na neve, remar, vou surfar a pororoca... – revela.
Gaúcha é um dos
símbolos da causa
Mas além de mudar
estereótipos, Fernando espera que cada vez mais o estudo de células-tronco em
humanos avance, algo que pode ser financiado pelos recursos da prova:
– Vou ganhar
com isso, mas muita gente que está atrás de mim vai ganhar muito mais.
Neste domingo,
Sabrina Ferri, gaúcha que perdeu os movimentos do pescoço para baixo em um
acidente em um balanço que simula o surfe, na Praia do Rosa (SC), em 2008,
participou da prova mais uma vez, empurrada pela irmã. Ela também tem se
tornado símbolo da causa:
– Esse ano
teve o dobro de participantes, foi muito legal.
Prova em formato
diferente
A disputa da Wings
For Life World Run é global inusitada. Após 30 minutos da largada, um
"carro perseguidor" (car catcher, em inglês) parte atrás dos
corredores com velocidade determinada, que aumenta a cada hora. Quando um
atleta era ultrapassado pelo veículo, a corrida terminava para ele. Nesta
edição, o piloto do carro era Cacá Bueno.
Quando o pentacampeão
de stock car se aproximava, a adrenalina subia e os corredores aceleravam o
passo, em um último gás, para não serem alcançados. Muitos elogiavam essa
lógica da prova.
Mas nem todo mundo
correu para ser alcançado. Fernando, que se prepara para a copa do mundo de
canoagem na Alemanha, daqui a três semanas, resolveu fazer apenas dois
quilômetros em sua cadeira de rodas, pois precisava se poupar.
Já o medalhista
olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima, também embaixador da ação, disse que a
participação dele foi além da expectativa:
– Esperava correr 10 quilômetros, acabei correndo 13, em 43 minutos. Estou treinando muito pouco e sem tantas condições físicas, mas o mais importante é estar compartilhando com todas essas pessoas aqui essa grande causa.
Os últimos a serem
alcançados vencem. Mas apenas um é o grande ganhador mundial. O vencedor
masculino mais uma vez foi o etíope Lemawork Ketema, que correu 79,9
quilômetros na Áustria. Correram 68.791 pessoas no mundo todo. No Brasil, foram
4 mil inscritos, contra 1,7 mil no ano passado, primeira edição da prova. A
próxima já tem data marcada: 8 de maio de 2016.
Fundação Wings For
Life
Sem fins
lucrativos, é dedicada à pesquisa de lesões na medula espinhal. Desde 2004, a
instituição financia projetos de pesquisa e testes clínicos pelo mundo.
Recentemente, uniu forças a Fundação Christopher & Dana Reeve, que tem
avançado no estudo de estímulo peridural – aplicação de uma corrente
elétrica contínua, com frequências e intensidades variáveis, em locais específicos
da parte de baixo da medula espinhal. Em estudo clínico, testarão 36 pacientes
com lesão.
– O estímulo
peridural é usado para ativar os circuitos nervosos na medula para dar sinais
que normalmente viriam do cérebro. Em termos mais simples, é um simulador que é
colocado dentro do corpo e ligado à medula espinhal. O simulador é acionado por
um controle remoto do tamanho de um smartphone. Quando o simulador está ligado,
ele dá comandos como "mova minha perna esquerda", o que resulta em
movimento. De certa forma, os pulsos elétricos "acordam" as células
nervosas da medula espinhal.
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