Professores dão exemplo de como lidar com aluno com Autismo
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Sophia
Winkel – Nova Escola – 12/2014
O
autismo é uma síndrome que afeta o desenvolvimento em três importantes áreas:
comunicação, socialização e comportamento. Dentro das Desordens do Espectro
Autista (DEA), a síndrome pode se manifestar de forma leve a severa e,
normalmente, as alterações comportamentais já podem ser notadas nos primeiros
anos de vida (até os 3).
Não há
estatística oficial entre os brasileiros, mas especialistas acreditam que a
proporção seja semelhante à encontrada em outros países: uma em cada 50
crianças tem o transtorno, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças
(CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados
Unidos.
Os
professores podem ficar atentos às mudanças comportamentais, como
comprometimento na interação social e na comunicação, além de interesses
restritos e repetitivos. Mas não é responsabilidade da escola fazer o
diagnóstico. “Se o docente observar esses comportamentos, deve falar com a
coordenação pedagógica e com a família para encaminhar a criança para
avaliações profissionais, com exames genéticos, neurológicos, psicológicos,
pedagógicos, fonoaudiólogos, entre outros”, diz Isabela Barbosa do Rego Barros,
pesquisadora na área de aquisição e desenvolvimento da linguagem, com ênfase em
autismo.
O que
cabe à escola é incluir a criança da melhor maneira possível. Na Lei nº
12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, fica assegurado a ela o direito à
Educação em todos os níveis de ensino. Garanti-lo não é tarefa simples: faltam
profissionais habilitados, o número de alunos em sala é grande e ainda não há
muitos conhecimentos consolidados sobre o tema. O que existe são bons exemplos
de práticas pedagógicas que funcionaram em determinados contextos e podem
ajudar o educador e refletir sobre o processo de inclusão.
OBSERVAR
A CRIANÇA
Um
exemplo interessante é a história de Arthur Silva Insaurriaga, 7 anos. Quando
chegou à escola EEEF Olegário Mariano, em Porto Alegre, no início deste ano, o
contato com os colegas e o tempo em sala eram uma tortura para o garotinho.
“Ele gritava muito, recusava o toque e não ficava sentado durante a aula”,
conta Clarissa Sombrio, professora da Sala de Recursos e responsável também por
acompanhar o aluno em classe.
A
educadora conta que, nos primeiros 40 dias, foi tentando descobrir como
trabalhar com Arthur. Começou a observar as atitudes, buscando pistas. Notou,
um dia, que ele sempre procurava um rádio que a professora titular usava em
sala e guardava no armário. Foi então que a música virou uma grande aliada de
Clarissa. Na sala de recursos, ela passou a intercalar as atividades propostas
com as canções que Arthur tanto gostava. Gradativamente, a educadora foi
diminuindo o tempo das músicas e aumentando o das atividades.
Maria
da Paz Castro, especialista e formadora em inclusão, comenta as tentativas da
professora: “Cada criança com autismo tem particularidades. É importante
investigar ao máximo o que funciona com cada uma. É um processo complexo, com
base na experimentação, de muitos erros e acertos. Por isso não existe uma
receita”.
A
música foi também uma ferramenta importante em sala de aula, ajudando o aluno a
participar das atividades de alfabetização propostas. Clarissa sugeriu que ele
usasse um fone de ouvido, mas a ideia não foi aceita. Ela passou, então, a
colocar o rádio ao lado dele com o som bem baixinho. A estratégia ajudou o
garoto a permanecer mais tempo em sala.
Os
momentos de irritação ainda aparecem, mas com menor frequência. Quando o menino
fica muito nervoso ou grita, a educadora e ele saem do ambiente, vão ao
corredor e conversam até que se acalme e volte. “No começo, Arthur ficava muito
pouco na classe, cerca de meia hora por dia.
Fonte: Educação Inclusiva em Foco