Próteses feitas em impressoras 3D mudam a vida de crianças nos EUA

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Com sua prótese feita em impressora 3D, Dawson Riverman pode jogar futebol como goleiro


Com sua prótese feita em impressora 3D, Dawson Riverman pode jogar futebol como goleiro
Os pais de Dawson Riverman tentaram ajudá-lo a se acostumar. Nascido sem os dedos da mão esquerda, porém, Dawson lutava para completar até as tarefas mais simples, como amarrar os sapatos e segurar uma bola. "Deus fez você especial desse jeito", diziam eles para o menino. Mas, aos cinco anos, ele começou a perguntar, choramingando, o porquê.

Os Riverman, de Forest Grove, no Oregon (Estados Unidos), não tinham como pagar por uma prótese de mão moderna para o filho e, de qualquer maneira, elas muito raramente eram produzidas para crianças. Então, a ajuda inesperada veio de um desconhecido com uma impressora 3D.


Ele fez uma prótese de mão para Dawson, em azul cobalto e preto, e não cobrou nada da família. Hoje, o menino de 13 anos pode andar de bicicleta e segurar um taco de beisebol. E espera virar o goleiro de seu time de futebol.

"Ele está percebendo que pode fazer as coisas com as duas mãos com simplicidade e não precisa tentar descobrir como", diz a mãe, Dawn Riverman.

A proliferação de impressoras 3D criou um benefício inesperado: o equipamento é perfeito para produzir próteses baratas. Um número surpreendente de crianças precisa delas: uma em cada mil nasce sem algum dos dedos, e outras perdem dedos e mãos em acidentes. A cada ano, cerca de nove mil crianças são amputadas apenas por causa de problemas com cortadores de grama.

Próteses modernas de reposição de membros são equipamentos médicos complicados, alimentados por baterias e com motores elétricos, e podem custar milhares de dólares. Mesmo que as crianças consigam utilizar o equipamento, elas crescem rápido demais para que o investimento valha a pena. Por isso, grande parte fica sem as próteses, lutando para fazer com uma das mãos o que a maioria de nós faz com as duas.

A E-nable, uma organização de voluntários on-line, busca mudar essa situação. Fundada em 2013 pelo médico  Jon Schull, o grupo combina crianças como Dawson, que precisam de próteses de mãos e dedos, com voluntários capazes de fazê-las em impressoras 3D. Os desenhos podem ser mandados para as máquinas sem custo nenhum, e as pessoas que criam os novos modelos dividem os seus planos de software de graça com outras.

O material para uma prótese de mão impressa em 3D custa só cerca de 20 a 50 dólares (de 60 a 150 reais), e alguns especialistas dizem que ela funciona tão bem quanto, se não melhor, do que as que custam muito mais. O mais impressionante é que os meninos e meninas costumam amar suas próteses "feitas em casa".

Elas não são desenhadas para imitar o que precisa ser reposto. Um modelo popular, o Cyborg Beast, simula o membro de um Transformer. A Raptor Hand e a Talon Hand 2.X não parecem desenhadas para quem tem uma deficiência; elas sugerem superpoderes de heróis de quadrinhos. E não são feitas para ser escondidas –na verdade, podem ser produzidas em uma grande variedade de cores fluorescentes e chamativas e brilhar no escuro.

Os dedos se fecham quando se flexiona o pulso, o que faz com que cabos puxem os "tendões". Ao mover o pulso novamente, a mão se abre. As peças são impressas em partes montadas por voluntários ou pelos pais e as próprias crianças.

Mais de 50 grupos e escolas, como os escoteiros e a Convent of the Sacred Heart, de Manhattan, criaram mãos para cerca de 500 crianças.

"Temos muitos milhares de pessoas em nosso site pedindo próteses de mãos", afirma Schull, cientista e pesquisador do Instituto de Tecnologia Rochester. "O que pode ser mais recompensador do que usar sua impressora 3D para fazer uma prótese de mão para alguém?"

Uma ferramenta on-line no site da E-nable, a "Handomatic" (uma junção das palavras "mão" e "automática"), pode ser utilizada para ajustar a prótese à criança. O pai coloca uma série de medidas no site, e a ferramenta produz um desenho customizado que pode ser baixado em uma impressora.

Cada mão leva cerca de 20 horas para ser impressa e a montagem leva duas ou três horas. Os desenhos também podem ser baixados do Thinginverse, site administrado pelo Makerbot, empresa que produz impressoras 3D. O YouTube tem vídeos com tutoriais de montagem.

Não é muito mais difícil do que montar um Lego complicado, diz Ivan Owen, um dos inventores das mãos impressas em 3D, que fez a prótese de Dawson.

"Liberamos os desenhos para domínio público porque assim não haverá patentes e qualquer um pode fazer o que quiser com eles", explica. "Muitas pessoas contribuíram com seu tempo para melhorar o desenho inicial. Eu me sinto abençoado."

Em dezembro de 2011, Owen, antigo vendedor de material escolar e artista de efeitos especiais, compartilhou um vídeo de um boneco em formato de mão gigante que havia feito. O vídeo foi visto por Richard Van As, carpinteiro da África do Sul, que havia cortado alguns dos dedos com uma serra de mesa.

Ele pediu ajuda a Owen para criar uma prótese e, depois de dois anos, o par chegou a um desenho funcional. Uma impressora 3D, eles imaginaram, poderia tornar a prótese mais barata e fácil de produzir.

Quando Van As ficou sabendo de um garoto na África do Sul que precisava de uma prótese de mão, os dois fizeram uma para ele também. Foi assim que a ideia decolou.

"Às vezes, no momento certo, há uma explosão em uma área", diz Owen, que hoje administra um laboratório de impressão 3D na Universidade de Washington, em Seattle. "Tiramos o calço e as coisas foram em frente."

Hoje, alguns dos maiores especialistas em design 3D estão colaborando com a E-nable para melhorar as próteses para crianças. As mãos são mais leves, pesam menos de meio quilo, mas os dedos ainda se movem juntos, não separados.

E elas não funcionam para qualquer criança: aquelas com amputações no meio do braço, por exemplo, normalmente, precisam consultar um protético profissional.

É mais comum, no entanto, que os pequenos sejam como Ethan Brown, 8 anos, que nasceu sem dois dedos da mão esquerda. Hoje, ele usa uma Cyborg Beast preta e vermelha, as cores de sua escola.

Ethan Brown gosta de comparar sua 
prótese 3D com a mão do Homem de 
Ferro ou do Homem Aranha.
"É mais legal ainda do que na foto", avisa ele. "Parece do Homem de Ferro ou do Homem Aranha."

Ethan já foi importunado por causa de sua deficiência, diz sua mãe, Melina Brown, de Opelika, no Alabama, que trabalha como voluntária da E-nable. "Hoje, ele é diferente de um jeito bacana, e as outras crianças dizem que também querem uma nova mão."

Os funcionários de serviços de saúde estão começando a prestar atenção ao movimento. Em setembro, o Hospital Johns Hopkins, em Maryland, e a E-nable organizaram sua primeira conferência envolvendo a comunidade médica, voluntários, pessoas que usam próteses e que as produzem. O hospital comprou uma impressora 3D e passou a imprimir próteses gratuitas para crianças.

"Qualquer um pode conseguir uma dessas próteses de mão –não importa que seguro saúde tenha", diz o doutor Albert Chi, professor-assistente de cirurgia da Johns Hopkins Medicine. "É emocionante ser capaz de oferecer uma ferramenta tão funcional para qualquer um que nasceu com problemas nas mãos ou teve de amputá-las."

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