Acompanhe aqui no Blog uma Grande Entrevista com Tatiana Rolim

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Psicóloga, escritora, palestrante, consultora de inclusão e modelo. A Revista Reação encerra com ela a série de entrevistas iniciada na Edição Nº 91 (março/abril/2013), em que apresentamos entrevistas com alguns de nossos colaboradores de mais longa data. Tatiana, que está conosco há cerca de 10 anos, encerra essa série de entrevistas especiais.

Em 1995, com 17 anos, ela participava de um passeio ciclístico na cidade onde morava e continua até hoje, Franco da Rocha/SP, quando foi atropelada por um caminhão. Depois de dois meses passando por várias cirurgias, coma, reanimações e riscos eminentes de morte, Tatiana finalmente voltou à vida. Todo esse processo foi descrito em seu primeiro livro: "Meu andar sobre Rodas".


O segundo livro escrito por ela, conta uma outra história, também fundamental: "Maria de Rodas - Delícias e Desafios na Maternidade de Mulheres Cadeirantes", em que, com a participação de outras mulheres também cadeirantes e mães, conta sua experiência. Tatiana é mãe de Maria Eduarda, a Mahe, que está com 4 anos e meio. A insistência em escrever mais sobre a gestação e o desenvolvimento da filha a fez continuar expondo suas histórias nas redes sociais: https://www.facebook.com/MaesCadeirantes?ref=hl.



Foi pensando nas mães como ela, que atuante e militante na causa, até desenvolveu um PL - projeto de lei – que está no Senado para apreciação sobre o parto humanizado da mulher com deficiência.



Psicóloga de formação, sempre trabalhou pela inclusão, escolhida até para carregar a tocha Olímpica em 2004. Por conta disso, patenteou uma bonequinha cadeirante conduzindo a tocha que espera parceiros para ser produzida em larga escala. Sua empresa – a TRinclusão – foi formalizada em 2012, mas desde 1998 ela já treinava gestores, informalmente, sobre a Lei de Cotas e a inclusão no mundo do trabalho. Assim, vamos conhecer um pouco mais da profissional, da mãe e da mulher Tatiana Rolim:



Revista Reação - Como psicóloga você já atendeu muitas pessoas com deficiência. Quais os principais problemas que você identifica?



Tatiana Rolim - Considerando a ética da profissão, sem dúvida fatores relacionados a família, ao impacto da deficiência, o momento da notícia, os agravos psíquicos, as fases emocionais enfrentadas pelos pacientes, as terminologias para deficiências, a contemporaneidade do assunto, bem como a visão biopsicossocial, demandas da sexualidade, empregabilidade, células tronco, pesquisas, resultados e expectativas de pacientes, são aspectos importantíssimos entre outros tantos sob um olhar completo do individuo, que o profissional da área de saúde e reabilitação precisa estar capacitado e buscar aperfeiçoamento. Isto é fantástico, não vejo a hora de poder escrever também sobre tudo isto !



RR - Você também já trabalhou com mulheres e crianças vítimas da violência. O grupo com deficiência é mais vulnerável em relação ao problema?



TR - Tema extremamente importante, pois os estudos até pouco tempo atrás não colocavam o grupo de pessoas com deficiência na visão da vulnerabilidade, havia poucos relatos, registros e denúncias, e quando acontecia caia num certo descrédito. É uma outra área que pretendo escrever tecnicamente, pois é muito carente de referências. Fiz especializações na USP e a literatura extensa sempre deixava a desejar. Uma das questões que busquei quando atuei na área foi de, emergencialmente, termos a delegacia da mulher acessível e na época tinha uma delegada excelente que me via como profissional e respeitava minhas considerações, assim o trabalho em equipe fluía. Também adequamos o formulário de atendimento e essas são dicas que já servem para todos os profissionais que estão lendo esta matéria. Temos uma responsabilidade muito grande e o olhar deve ser amplo. A violência contra a pessoa com deficiência ocupa não somente os lares, mas o mercado de trabalho, a sociedade também. As medidas protetivas em caso dessas pessoas também são consideráveis e o fortalecimento para a denúncia e o empoderamento da vítima são essências para o sistema funcionar. Sem dúvida, o poder de nosso exercício como cidadãos, que fiscaliza as leis e exige a democracia, também é fundamental. No que tange à violência contra a criança e o combate à pedofilia, foi um longo período de trabalho, com resultados significativos na região de Osasco/SP. Me afastei da atuação em um momento de escolha pessoal, para esperar minha filha e viver a gestação com outra energia de trabalho e então foquei nas palestras e projetos para Terceiro Setor e, claro, as páginas da doce espera da gestação !



RR - Depois de tantos anos trabalhando com o segmento, em sua opinião, quais os avanços mais importantes que o Brasil teve em relação à inclusão de pessoas com deficiência ?



TR – Nossa ! Se eu contar, tenho certeza que um monte de gente vai acreditar: a acessibilidade no transporte coletivo em SP ! Foram anos de luta, de reuniões, de um exercício terrível para conseguirmos mudarmos a cultura, fazer a lei existir e a atitude acontecer. Participei das Conferencias Nacionais e a cada ano temos propostas direcionadas para sanar tantas dificuldades impostas pelo sistema. A outra conquista, em nível Federal, é a questão da empregabilidade: sem a Lei, infelizmente, nada teríamos, mas assim como lutamos, nos unimos para termos hoje o mínimo de direito ao acesso ao transporte público, sei que em breve (mais uns 10 anos, eu acho) teremos um outro olhar sobre a empregabilidade e suas modalidades de emprego para pessoas com deficiência. Temos muito a conquistar ainda, mas não podemos desanimar. A geração anterior à minha, referenciada por pessoas importantes do movimento, conquistou muitas coisas, muitos avanços que foram aproveitados pela minha geração. Minha meta é juntar pessoas nesta geração e deixarmos grandes avanços para as próximas, porque algumas deficiências podem ser erradicadas, mas outras existirão ainda por bom e longo tempo: as deficiências neurológicas, doenças desmiliezantes ou degerativas, AVCs (comumente chamados de derrames), TCEs (traumatismos crânioencefálicos), anoxia pós-parto e outras tantas, ou seja, as deficiências não acabam, então temos que construir um mundo melhor.



RR - Especificamente em relação ao trabalho, já que você tem uma consultoria nesse sentido, quais os principais problemas enfrentados por quem procura uma colocação ? Ainda há resistência por parte das empresas, apesar da Lei de Cotas ?



TR - Infelizmente vivemos o duplo lado da marginalização e da inclusão, onde através da Lei de Cotas temos um cenário que inclui, mas exclui. São corporações que apostam em tanta capacitação que deixam de fora os profissionais sendo capacitados, e depois desprezados. Chego a dizer que daqui a pouco ninguém mais será contratado porque estará capacitado demais, contradizendo a história de pouco tempo atrás, em que ninguém estava capacitado. Ou seja, cada hora é uma desculpa para não contratar: seja o perfil de vaga exigente demais, restrições dos tipos de deficiências que tornam-se algo discriminatório e condenável, passível de denúncias, por ser tão grave quanto anunciar que empresa “x” só contrata pessoas jovens e bonitas. A empresa que rotula o tipo de deficiência está sendo tão discriminatória quanto essa. Precisamos de maior aplicabilidade da lei, maior fiscalização e ação da pessoas com deficiência, não digo como empresária da TRinclusão, afirmo isto como pessoa com deficiência, que aposta na causa, na união do grupo em prol de direitos garantidos ! As empresas possuem sim, algumas limitações, muitas impostas por mitos que quebramos com nosso trabalho de treinamentos e palestras, por outro lado há também o perfil de algumas pessoas com deficiência que seguem o modelo assistencialista, imaturidade profissional, dificuldade de relacionamentos com hierarquias, superproteção familiar e dificuldade em contextualizar-se na sociedade contemporânea, que é dinâmica, ativa e competitiva. Ou seja, temos muito trabalho a fazer daqui para frente ! Em casos de exceção, há empresas que fazem o beabá da inclusão profissional sem grandes sacrifícios e atingem sucesso em respeito à diversidade humana, trazendo grandes resultados à cultura corporativa.



RR - Em suas palestras pelo Brasil, qual a visão sobre as pessoas com deficiência que você passa ?



TR - Entrego uma visão fortalecida às pessoas com deficiência e esta é a imagem que deixo onde passo, reafirmando que a vida não acaba quando chega uma deficiência, seja ela como for, ou se chega, ou se nasce com deficiência, se é visual, física, auditiva etc... há sempre caminhos e o meu caminho eu reconstruí sobre RODAS. Poderia ter sido sobre muletas, sobre próteses, sobre bengalas... O mais importante é poder acreditar que sonhos não nascem nas pernas ou nos sentidos, sonhos e desejo de realizá-los nascem dentro da gente, sem ordem, sem localização efetiva, talvez neurologicamente sim, mas eles ocupam a subjetividade do indivíduo e não seus membros, seus sentidos, muito menos suas partes íntimas. Sempre faço questão de acentuar isto também, clarificando que temos uma vida normal em todos os aspectos, considerando a particularidade de cada deficiência. 



RR - Quais são as próximas lutas que o segmento deve desenvolver no futuro ? O que falta conquistar ? 



TR - Bom, já temos uma lista gigante de conquistas e uma mais extensa ainda de propostas levantadas em Conferências Nacionais. Vem agora a incrementação da Declaração da ONU com todas as suas diretrizes focando na funcionalidade e não nas deficiências das pessoas, trazendo com isto com grande avanço no que diz respeito a deficiências, como integrabilidade da pessoa. Temos um próximo ano político em breve, que precisamos ter um olhar da nossa responsabilidade em cobrarmos aquilo que foi proposto no sentido de politicas públicas para pessoas com deficiência. Mais do que isso, temos diante das conquistas já atingidas, a necessidade de mantermos “o olho no gato” no sentido de saber a continuidade das ações. Isto é muito importante para não haver retrocessos. 



RR - E seus projetos pessoais ?



TR - Tenho muitos, tenho inclusive o próximo livro previsto agora para dezembro, cujo tema é voltado para o RH na missão de contração de profissionais com deficiência. É escrito em parceria com outros autores e por iniciativa de OAM - Obreiros do AMor e Misericordia. Estão previstos também textos durante o ano, ações inclusivas, viagens, TV e eu agora estou forte com uma campanha a favor dos taxistas para serem treinados. Se antes brigávamos pelo acesso ao transporte coletivo, hoje a briga se estende às companhias aéreas e aos taxistas que se recusam conduzir cadeiras de rodas, cães guias e até oxigênio. Já fiz até uma pesquisa nas redes sociais e estou em vias de aproximação com a categoria, é um grande projeto para bons resultados! Que venha 2015 que estou colhendo e plantando ações! E eu, pessoalmente? Sou uma mulher determinada, realizada como profissional, como mãe e amiga, sou uma pessoa tipicamente aquariana e ansiosa, cheia de sonhos, muitos deles realizados diante da realidade. O último foi na base da ilusão de um relacionamento falso, mas que me livrei em tempo. Nunca me imaginei vítima da própria demanda que eu atendia na delegacia de mulheres. Estou bem... Isto é a certeza de que quando temos conhecimento somos fortes o suficiente para lutar pelos nossos direitos e que diante de qualquer situação nunca podemos calar, temos que ser fortes, determinadas e denunciar. Assim, que venha realmente 2015... deixando o grande aprendizado, sensibilizando, orientando e oportunizando o acesso à informação a todas as pessoas com e sem deficiência.



RR - Aproveite para deixar sua mensagem aos leitores da Revista Reação !



TR - Claro que não posso deixar de dizer que a TRinclusão também faz a inclusão através do trabalho, então envie seu currículo para nossas vagas (www.trinclusao.com.br). Ao leitor, a minha enorme satisfação em ser reconhecida como escritora. Que despropositadamente, através das palavras, atinjo universos, vidas, famílias e entrego a minha história, a minha ficção e a certeza de que tudo é realmente possível, de que TUDO VAI DAR CERTO! 

Um feliz 2015 a todos, nos vemos por aqui ! 

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