Ele só pode piscar os olhos e, ainda assim, dá aulas na UFJF
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Vanderlei Corradini Lima, 53,
é portador da esclerose
lateral
amiotrófica (ELA)
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O médico e professor Vanderlei Corradini Lima, 53 anos, é
portador da esclerose
lateral amiotrófica (ELA), com
sintomas diagnosticados em 2010. Mesmo tendo que conviver com as extremas
limitações físicas impostas pela enfermidade, ele reencontrou a felicidade de
continuar na profissão ao ser convidado para ministrar aulas na UFJF
(Universidade Federal de Juiz de Fora), localizada na cidade de Juiz de Fora a
278 km de Belo Horizonte.
Nos últimos meses, pessoas famosas passaram a encarar o
“desafio do balde de gelo” como maneira de atrair atenção para a enfermidade.
Há também o mote de o desafiado fazer uma doação em dinheiro a uma instituição
que trata pacientes com a ELA.
“A doença me tirou muita coisa, não falo, não ando, não
como, não saio de cima de uma cama, mas não tirou minha capacidade de servir e
enfim ser feliz”, descreveu Lima ao UOL em entrevista concedida por e-mail. Ele
afirmou ter conseguido trabalhar até julho de 2011. Atualmente, ele vive com a
mulher e dois filhos na cidade de São Sebastião do Paraíso, cidade no sul de
Minas Gerais e distante 400 km da capital mineira.
Há três semestres, o profissional atua como professor
convidado, no curso de medicina da universidade, e no qual interage a distância
com alunos do 2º período na disciplina fisiologia médica, que aborda tópicos de
neurofisiologia.
Ele dispõe de computador munido de um programa e um
leitor infravermelho que captam os movimentos dos globos oculares, que não
foram afetados pela doença. Por meio de um mouse e um teclado virtual ele
consegue interagir com a máquina e utilizá-la normalmente.
“Há uma página específica no site da universidade com uma
plataforma virtual de ensino a distância. Cada semana um novo caso clínico é
discutido entre professores, monitores e alunos”, disse referindo-se à
plataforma utilizada para ensino a distância (Moodle). Segundo ele, o retorno
dado pelos alunos foi considerado positivo.
“Meu intuito sempre foi de agregar à disciplina uma visão
prática e humanista, gerando um ensino mais próximo da realidade que irão
enfrentar. O retorno positivo foi confirmado pela participação dos alunos.
Especificamente em relação ao caso clínico da ELA podemos aproveitar ao máximo,
já que eles tinham a visão de um paciente e um médico na discussão”, disse.
Ele participa dos fóruns de discussão online promovidos
por meio da plataforma abordando aspectos práticos e psicobiossociais dos casos
discutidos, além de responder a questionamentos feitos pelos universitários do
curso.
Experiência.
Bem humorado, ele enviou esta foto para ilustrar a reportagem sobre sua experiência como professor no curso de medicina da UFJF. |
Responsável pelo convite feito ao médico, a professora Carla Malaguti, que
ministra aulas de fisiologia no curso de medicina da UFJF, disse ter visto que
Lima postava mensagens nas redes sociais. Assim, ela vislumbrou uma maneira de
trazer a experiência do médico para seus alunos.
“Como ministro aulas de neurofisiologia no curso de
medicina, na qual são abordados o funcionamento do sistema nervoso, bem como as
disfunções neurológicas como a ELA, imaginei que com a experiência do doutor
Vanderlei, enquanto médico e sua vivência como paciente vítima dessa doença,
seria muito oportuno e produtivo incorporá-lo nas discussões de casos
clínicos”, informou.
A professora afirmou ter tido o respaldo dos diretores do
curso e disse que a interação entre os alunos e Lima é um “exemplo a ser
seguido”.
“Ele trouxe a riqueza das suas experiências
profissionais, argumentando, apimentando e desafiando os acadêmicos a buscarem
respostas muitas vezes não encontradas em livros ou artigos. Os alunos ficaram
mais interessados, curiosos e motivados no saber ao lidar com um caso real de
uma doença debilitante como a ELA através de uma nova tecnologia de
comunicação”, contou.
Carla Malguti confidenciou que há planos de utilizar o
conhecimento de Lima nos cursos de fisioterapia e psicologia.
“A história do doutor Vanderlei mostra como pessoas
limitadas por aspectos físicos podem romper fronteiras e se manterem
produtivas, pois além de poderem contribuir com a sociedade, podem também
manter parte da satisfação com a vida ao se sentirem úteis”, salientou. Carla
disse que a divulgação da doença é importante para mobilizar a sociedade com a
arrecadação de fundos que permitam pesquisas para tentar encontrar a cura da
doença ou minorar os efeitos dela nos portadores.
Escritor.
“Minha história talvez seja diferente da maioria dos pacientes, pelo fato de
ser médico, eu mesmo fiz o diagnóstico clínico, e, após a confirmação, preparei
minha vida e minha família para tudo que iria enfrentar. Nessa situação é
fundamental a aceitação”, disse.
Recentemente, ele escreveu um livro, no qual aborda a
doença, e se prepara para a confecção de outro. “Na verdade, o que deu origem
ao livro EU E ELAS, foram as várias conversas pelas redes sociais, onde percebi
que esperavam de mim um médico de almas. Assim pude servir e ser útil, minha
verdadeira vocação, escrevendo crônicas”, avaliou. O título faz referência a
sua experiência com a medicina, a música e a doença. O próximo livro, segundo
ele, terá o título de “O Médico de Pijamas e suas Estórias”.
Fonte: UOL Educação.
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