A dança sem fronteiras
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A dança é, antes de tudo, uma manifestação
intrínseca ao ser humano. Sendo assim, por que haveria de existir qualquer
espécie de limitação a essa forma de arte? Pensando nisso e com a intenção de
romper as barreiras que separam as pessoas da dança é que a coreógrafa,
bailarina, atriz e pesquisadora Fernanda
Amaral criou, em 2010, o Dança sem Fronteiras.
Em três anos, o projeto cresceu, foi
convidado a participar de vários eventos, como a virada inclusiva de 2012, no
MAM, e até virou curso de Extensão Cultural na SP Escola de Teatro –
Centro de Formação das Artes do Palco.
As aulas do curso, que tiveram início em
agosto e vão até 3 de outubro, têm como objetivo preparar e incentivar
profissionais para trabalharem com o movimento e a dança de cada participante
acolhendo a diversidade, assegurando que ninguém fique isolado e que todos
possam participar igualmente do processo criativo.
Fora da SP Escola de Teatro, o trabalho de
Fernanda também aponta férteis possibilidades. Recentemente, ela foi
selecionada em um Edital da Prince Claus Fund for Culture and Development (Holanda) para
aplicar seu projeto em uma escola pública de São Paulo. “Fernanda Amaral é uma
das mais engajadas dançarinas e educadoras do Brasil. Ao longo dos anos, ela
tem batalhado para levar o mundo da dança às pessoas com deficiência”, observa
a fundação.
O Edital garante verba para que ela aplique
seu projeto na Escola de Tempo Integral Alfredo Paulino Endereço, no Alto da
Lapa, com os estudantes do ensino fundamental. “Já estamos na escola fazendo um
projeto piloto. A ideia é realizar uma residência artística, não um simples
projeto de arte-educação, mas sim levar efetivamente a arte para dentro da
escola. É importante que as crianças tenham contato com o processo artístico.
Esse conceito tem tudo a ver com a SP Escola de Teatro e a forma como ela
surgiu, com o Satyros e os outros grupos da Praça Roosevelt”.
A residência de Fernanda começará em
outubro deste ano e se estenderá até novembro de 2014, com quatro horas
semanais de atividades. Ela trabalhará com as crianças, que assistirão a
ensaios, terão contato com bailarinos – dentre os quais vários são portadores
de deficiência física – e com uma forma de dança contemporânea não muito
conhecida por elas, basicamente movida por improvisação.
Durante esse tempo, pequenos documentários
registrarão o processo. E, a cada três meses, serão organizadas apresentações
da companhia para as crianças e os pais e das crianças para os pais.
“Focamos na habilidade, no que cada um pode
trazer para o projeto. Uma das coisas que despertaram a curiosidade da Prince
Claus Fundo foi sobre qual seria o tema e como o desenvolveríamos. A história
não chega pronta, ela vai nascendo a partir de quem está no projeto”, explica
Fernanda.
A artista contará com dois profissionais
para realizar a residência: um assistente, o bailarino profissional Beto
Amorim, e uma assistente-aprendiz, Lucinéia Filipe dos Santos, que tem baixa
visão e participa de seu curso na SP Escola de Teatro.
Trabalhar com habilidades mistas, para
Fernanda, é um dos fatores mais instigantes nesse processo. “Tento buscar a
fisicalidade, trabalhar a individualidade e deixá-la transparecer no trabalho
coletivo. Isso também é o que faço no curso de Extensão Cultural. Muitas vezes,
os alunos chegam à conclusão de que quanto mais pessoas diferentes estiverem no
curso, mais elementos eles terão para criar e mais interessante ficará a
composição”, ressalta.
Além da dança, o projeto contará,
esporadicamente, com a participação de um músico que vai interagir com as
crianças e um artista plástico que vai desenhar o processo e incentivar as
crianças a registrarem suas impressões através de desenhos.
“Este é meu trabalho há mais de 20 anos. A
diversidade que traz a riqueza e a identificação do outro. A arte é isso, algo
que te faz refletir, que propõe novos caminhos. Se você vê uma arte com a qual
você pode se identificar, você percebe que pode fazer também. Isso muda a
sociedade, cria novos parâmetros”, observa a coordenadora.
Proporcionar uma espécie de inversão de
papeis é uma das consequências de se trabalhar no terreno da diversidade. Dessa
forma, mais que conhecer, coloca-se na própria posição do outro, numa troca que
proporciona grande aprendizado às duas partes, e não apenas ao deficiente. “É
interessante não só para o deficiente, mas para todos. Por exemplo: no curso
eles me pedem para trazer vendas, para saber como é ficar cego. E, enquanto o
cadeirante não quer usar a cadeira de rodas, os demais fazem questão de
experimentar, fazem fila, revezando”, comenta Fernanda.
Fonte: SP Escola de Teatro
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