Profissionais qualificados deixam de concorrer a vagas para pessoas com deficiência
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Victória Mantoan
Fábio Gomes - Joel Silva/Folhapress
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Fabio
Gomes Alencar, 34, é formado em administração e tem pós-graduação na área
financeira. Ele também é cadeirante, o que permitiria que concorresse a
empregos específicos para profissionais com deficiência oferecidos pelas
empresas para preencher cotas previstas em lei. Mas ele opta por participar dos
processos seletivos gerais por não encontrar vagas adequadas à sua
qualificação.
"As vagas para
profissionais com deficiência são extremamente operacionais. Tem aquele
paradigma de que deficientes só podem fazer coisas mais simples", conta
Alencar, contratado pela HP como gerente de planejamento de negócios no fim do
ano passado.
De acordo com Jaques
Haber, sócio-diretor do i.social, consultoria especializada em colocação de
pessoas com deficiência, isso acontece porque as vagas somente para esse
público têm um perfil que exige menos qualificação e oferecem remuneração mais
baixa.
Na última terça-feira
(5), das 13,7 mil posições disponíveis para esse público no Vagas.com, um dos
maiores sites de emprego do Brasil, 82% eram para a área operacional. Outras 8%
eram para o nível júnior ou trainee. Só havia uma para a diretoria.
Por causa disso, Manoela
Costa, gerente-executiva da empresa de recrutamento Page Personnel, diz que
hoje é comum que candidatos não queiram mais se candidatar a vagas exclusivas.
Segundo ela, isso
acontecem porque eles sentem que as oportunidades de crescimento na carreira
ficam limitadas. "Algumas empresas estão mais preocupadas em preencher a
cota e acabam restringindo a área de atuação do profissional", afirma.
Uma lei em vigor há 23
anos determina que de 2% a 5% dos empregados de empresas com mais de cem
funcionários devem ser pessoas com deficiência. A proporção da cota varia de
acordo com o tamanho da força de trabalho da companhia.
De janeiro de 2010 a
julho deste ano, o Ministério Público do Trabalho em São Paulo recebeu 717
denúncias contra empresas por descumprimento da norma.
Disputa Difícil
Para esses profissionais,
entretanto, a concorrência nas vagas gerais pode ser difícil. "A
dificuldade que eles podem ter é se candidatar a vagas que não são exclusivas e
serem descartados pela deficiência", afirma Costa.
Gonçalo Moreira Araújo,
40, é formado em administração e tem pós-graduação em gestão de negócios. Ele
conta estar com dificuldade para encontrar um emprego adequado ao seu perfil.
Araújo perdeu a
articulação do joelho direito depois de um acidente que sofreu aos 17 anos, o
que faz com que ele tenha problemas de locomoção. Ele não quer ficar em um
trabalho operacional, ou de auxiliar, que não corresponde à sua experiência.
Mas diz que dificilmente
é convocado para entrevistas "Teve uma empresa só que me chamou, se
interessou, mas não fechou comigo."
Segundo recrutadores, é
indicado que os profissionais sejam transparentes em relação à deficiência e
coloquem a informação no currículo para não causar surpresas no restante do
processo seletivo.
Isso porque o
entrevistador já pode se preparar para o caso de o candidato precisar de alguma
adaptação para a seleção e a empresa pode avaliar se tem capacidade de receber
o profissional.
Uma das principais
críticas de profissionais que entram em vagas exclusivas para pessoas com
deficiência é a falta de um plano de carreira.
Robson da Silva Lopes,
37, formado em administração, diz que trabalhou em um banco entre 2006 e 2008
após ser contratado pela lei de cotas. "Só fui contratado para preencher
cotas. Não tinha tratamento igual ao dado a outros profissionais", diz.
Depois, foi trabalhar em
uma montadora após ter participado do processo seletivo convencional e diz ter
recebido tratamento igualitário.
Lopes teve a perna
amputada em um acidente de trem em 1994. Ele conta que está procurando emprego
há três meses, mas credita a dificuldade de se recolocar no mercado à má fase
da economia -em parte porque seu problema não exige que as companhias façam
grandes adaptações, que já estão previstas em lei, como rampas.
Especialistas recomendam
que os candidatos sejam extremamente transparentes quanto às suas limitações
durante o processo seletivo, deixando claro, se for o caso, quais as adaptações
necessárias. Entretanto, isso deve ser feito da forma mais natural possível.
"A pessoa vai ter
alguma limitação, ou restrição, mas é muito importante mostrar tudo o que ela
pode fazer naquele trabalho", recomenda Guilherme Braga, diretor da
Egalitê Recursos Humanos Especiais.
Para profissionais como
Alex Garcia, 38, que é surdocego, as dificuldades são maiores. Ele foi a
primeira pessoa com a condição a conseguir completar um curso superior no
Brasil e hoje atua fazendo trabalhos de conscientização e orientação das
famílias de surdocegos.
Ele explica que a entrada
no mercado de trabalho é difícil porque a educação não consegue alcançar as
pessoas com essa deficiência e o mercado de trabalho pressupõe um déficit de
capacidade.
Muitas companhias relatam
dificuldades para preencher as cotas pela dificuldade de encontrar
profissionais qualificados, mas Braga afirma que, mais do que capacitar os
profissionais deficientes, é necessário preparar as empresas para recebê-los.
"Existem mais
pessoas com deficiências do que vagas. As companhias têm essa percepção de ter
poucos candidatos porque elas não conseguem englobar diversos tipos de
deficiências", diz.
Fontes: Folha de S.Paulo
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