Avançam testes com prótese feita em impressora 3D
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Ricardo Cesar Coura tem 36 anos e
trabalhava em uma metalúrgica de Santana de Parnaíba/SP. Em 30 de dezembro de
2013, depois de 12 anos da atividade, ele perdeu as duas mãos em um acidente
com uma prensa. Hoje ele vai semanalmente ao Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas (IOT-HC), em São Paulo/SP, como o
primeiro paciente a testar, no Brasil, com acompanhamento, uma mão mecânica
confeccionada em plástico por uma impressora 3D.
Na edição anterior - Nº 97 - da Revista Reação (março/abril), falamos da
utilização dessas impressoras e das possibilidades de uso para beneficiar
pessoas com deficiência. Agora fomos conferir os progressos de Ricardo e da
equipe que trabalha no projeto. Afinal, em casos como esse, a engenharia e a
terapia ocupacional precisam ter um casamento perfeito: "Produto, sem
processo em saúde, não faz sentido", afirma a física Maria Elizete Kunkel,
professora e pesquisadora do curso de Engenharia Biomédica da Universidade
Federal do ABC (UFABC), parceira do IOT nesse desenvolvimento.
O material escolhido para a confecção é relativamente simples: além do ABS
(termoplástico), são usados: linha de pesca (cabo de aço), elástico comum e
borracha. Atualmente, o custo estimado é de R$ 400, isso sem contar com a
impressora, que ainda é cara, por volta de R$ 15 mil para importação. Um
professor da UFABC, Nilo Segundo, criou uma impressora 3D de baixo custo e a
equipe vai usá-la também para o projeto, o que diminuirá o preço final da
prótese.
Maria Cândida de Miranda Luzo, da Terapia Ocupacional do IOT, acredita que por
serem materiais já conhecidos, o plástico, inclusive, tem várias aplicações em
centros cirúrgicos, não haveria necessidade de uma aprovação especial para a
utilização futura da prótese pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA).
O modelo original seguido por aqui é da África do Sul. A partir dele, surgiu
uma comunidade nos Estados Unidos em que interessados fazem alterações e deixam
em aberto na internet com fotos e relatos de toda a evolução. Esse material
está sendo aproveitado nas pesquisas.
Vantagens da Utilização
Além do aspecto financeiro, que
facilitaria inclusive as doações pelo SUS, a equipe vê outros pontos positivos
no aperfeiçoamento do modelo mecânico feito por impressora. Um deles, de acordo
com a terapeuta ocupacional Mariana Camargo, é a possibilidade de colocação
muito rápida depois da amputação, de forma que o paciente já possa sair do
hospital com o modelo. "Tem muito paciente que desiste de usar a prótese
convencional porque demora muito", afirma a terapeuta.
No caso de Ricardo até que o processo demorou, os testes só começaram em
fevereiro deste ano. Mariana explica que uma vez o modelo ajustado, prevendo as
várias necessidades, será muito mais fácil. "Tivemos que ajustar o tamanho
dos dedos e coisas assim, mas a gente já tendo uma ideia de como isso funciona,
vamos conseguir produzir muito mais rápido para outros pacientes, será muito
útil eles conseguirem colocar cedo essa prótese, até para eles aderirem melhor
à prótese definitiva se quiserem", considera.
Na visão da equipe, em relação à prótese mioelétrica, o modelo é muito mais
leve e não demanda energia para funcionar. Também é mais leve do que o modelo
mecânico convencional. Por causa disso, sua adaptação é mais simples, não
demanda tanto esforço. A inspiração é de um modelo de 1830, fabricado por um
dentista, totalmente em madeira: "A ideia é continuar usando a construção
mecânica, porque ela funciona muito bem, mas aliada às novas tecnologias de
hoje. Nós podemos mudar o design, o material que está sendo usado e podemos
alterar a forma como testamos isso, com o acompanhamento do pessoal da terapia
ocupacional, que dá um feedback bom no sentido de saber o que eu posso
modificar na prótese que vai ajudar o paciente em si", garante Elizete.
Testes e expectativas
O modelo vai permitir que Ricardo
segure talheres, escove os dentes, use uma caneta, além de ponteira para
digitar. "Eu espero que esteja tudo certinho, ajustado para ver o que dá
para a gente fazer. A expectativa é das boas porque é uma coisa que vai ajudar
muito. Vou experimentar, tem que ver a adaptação, se a gente se acostuma... vou
tentar", diz o paciente animado.
Elizete chama a atenção para a situação dos amputados no Brasil, que esperam
até mais de um ano para receber uma prótese após o acidente e, quando essa se
danifica, voltam a ser amputados porque não recebem uma segunda. "Não
existe justificativa para que o Brasil esteja tão atrasado em relação ao
desenvolvimento de soluções para membro superior, visto que para membro
inferior existem muitas possibilidades no mercado", argumenta.
A prótese agora desenvolvida será em breve testada por um grupo de crianças.
Essa é uma das vantagens, à medida que a criança cresce, a peça pode ter suas
partes reimpressas e adaptadas. "Por conta dessa questão, geralmente uma
criança passa toda a infância sem prótese, esperando chegar a uma idade em que
ela não cresça mais para receber uma", diz a pesquisadora.
O contato com ela pode ser feito através do e-mail:
elizete.kunkel@ufabc.edu.br.
O site do Grupo Bones, a que ela pertence na universidade, é:
No You Tube, www.youtube.com/user/pesquisabones
Vem aí uma entidade para amputados !
Está em fase de criação a Associação
Brasileira de Apoio Tecnológico aos Amputados, com sede em Promissão/SP. Seu
objetivo é ser um centro de referência e excelência no desenvolvimento e na
pesquisa de novas tecnologias que atendam à pessoa com deficiência em membros
superiores.
A iniciativa é de Margareth Maria Rego, cujo filho sofreu amputação parcial de
mão devido a um acidente de trabalho. Após o acidente, ela passou a estudar as
dificuldades dos amputados e já foi a Brasília/DF várias vezes conversar sobre
a aquisição de próteses pelo SUS. Maria Elizete Kunkel, da UFABC, ficará
responsável pela parte de pesquisa e desenvolvimento da entidade.
Existe um grupo no facebook que trata do tema, com quase 2 mil pessoas,
chamado: "Amputados são diferentes, deficiente é o Sistema".
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