No Brasil, apenas 10% das pessoas diagnosticadas com autismo são tratadas
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Aos 19 anos, Caio* faz
cursinho pré-vestibular. Ele quer estudar e ser escritor. A mãe do rapaz, Inês
de Souza Dias, elogia as habilidades do filho, mas não esconde a existência dos
traços deixados pela síndrome de Asperger, tipo de autismo diagnosticado quando
ele era ainda pequeno. Dificuldade de entendimento e de aceitação das regras
sociais e falta de interesse por assuntos do dia a dia são alguns deles.
É preciso ampliar a rede
de apoio e de atendimento à criança e à família
“Caio tem interesses
muito focados. Gosta de jogos e só quer falar sobre isso. Apesar de ser muito
inteligente, não se interessa por assuntos cotidianos. Isso dificulta, por
exemplo, o trabalho na escola. É uma batalha para conseguir que ele aprenda
outras coisas”, conta. “Ele tem também um déficit de atenção bem acentuado.
Para o Caio, é difícil permanecer na mesma tarefa por muito tempo”, completou.
Segundo Inês,
características do filho consideradas estranhas por muitos, como andar para lá
e para cá e a conversa com ele mesmo, ajudaram a definir o futuro do rapaz.
“Numa certa idade, ele andava de um lado para o outro e falava alto. Parecia
que estava contando histórias. Perguntei o que ele estava fazendo e ele disse
que estava brincando com a imaginação e contando uma história para ele mesmo.
Perguntei se gostaria de transformá-la em um livro. E foi o que fizemos.”
Caio frequentou a escola
com crianças sem o transtorno e recebe, até hoje, acompanhamento especial. Mas
a estimativa da Associação de Amigos do Autista (Ama) é que, das cerca de 1
milhão de pessoas no país diagnosticadas com autismo, apenas 100 mil recebam
algum tipo de atendimento. No Dia Mundial de Conscientização do Autismo,
lembrado hoje (2), a instituição cobra uma discussão mais ampla sobre o
assunto.
“O diagnóstico é a parte
do problema que mais ganha com a data. Os pediatras acabam percebendo e se
interessando pela causa. É o ponto mais favorecido. O grande problema é que,
feito o diagnóstico, a família fica sem saber para onde ir”, explicou a
superintendente e cofundadora da Ama, Ana Maria de Mello.
Mãe de um rapaz autista
de 34 anos, ela lembra que, na época em que recebeu o diagnóstico, não havia
tratamento disponível. O processo, segundo ela, é complicado, uma vez que
envolve diversos profissionais de áreas distintas. “Estamos falando do espectro
do autismo. Temos desde casos de extrema gravidade até casos de pessoas com
inteligência normal, mas que também precisam de alguém que entenda o que está
fazendo. Os casos mais leves não são tão simples.”
Para a presidenta da
Associação Brasileira de Autismo, Marisa Furia Silva, o autismo ainda é um
assunto pouco abordado, sobretudo no Brasil. Mãe de um rapaz de 36 anos com a
síndrome, ela lembra que, depois do diagnóstico, houve pouca informação sobre
como lidar com o filho. “Não tínhamos internet nem literatura sobre o assunto.
Era uma época difícil. Não se sabia o que fazer.”
Marisa também acredita
que a maior parte das pessoas diagnosticadas com autismo no país está sem
atendimento. Segundo ela, o avanço no diagnóstico precoce não basta. É preciso
ampliar a rede de apoio e de atendimento à criança e à família.
“A gente tem que pensar
que é para a vida toda. Temos muitos adultos comprometidos hoje e a esperança é
que, no futuro, isso não aconteça. O prognóstico de uma criança é muito
melhor”, destacou. “Estamos em um momento em que já se tem documentos e parâmetros
para o diagnóstico. Agora, temos que ter tratamento”, destacou.
Fonte: saude.ig.com.br
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