Cientistas criam prótese de mão que confere sensação de tato a amputado
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Uma nova prótese de mão desenvolvida por um
grupo de pesquisadores europeus foi capaz de conferir ao amputado uma sensação
semelhante ao tato, permitindo que ele identificasse a forma e a consistência
de objetos. A novidade foi considerada de grande importância, pois a
sensibilidade ao toque é essencial para o controle dos movimentos e da força.
Podemos não perceber, mas a modulação da
força que exercemos ao segurar um objeto depende das informações que inúmeros
sensores presentes em nossas mãos enviam para o cérebro, informando se o objeto
é macio, rígido, áspero ou pontudo. Sem ter essa sensibilidade, arriscaríamos
empregar força demais, e amassar um copo de plástico, por exemplo, ou força de
menos, e deixar um copo de vidro se espatifar no chão.
O equipamento, criado a partir de uma colaboração
entre cientistas de instituições da Itália, Suíça, Alemanha, Inglaterra e
Dinamarca, envia informações captadas por sensores instalados nas pontas dos
dedos da prótese diretamente para os nervos periféricos do paciente.
“Pela primeira vez, conseguimos restabelecer
a capacidade sensorial em tempo real em um amputado, enquanto ele controlava
essa mão ‘sensorizada’”, diz o pesquisador Silvestro Micera, um dos líderes da
pesquisa. O estudo foi publicado na revista "Science Translational Medicine".
Voluntário faz bateria de testes para testar tato artificial (Foto: LifeHand 2/Patrizia Tocci) |
Os cientistas partiram de um modelo de prótese já existente no mercado, em que
o paciente é capaz de controlar os movimentos da mão artificial por meio de
estímulos elétricos emitidos a partir do esforço exercido pelos músculos
remanescentes. Captados pela prótese, esses estímulos controlam os movimentos
de abrir e fechar os dedos ou girar o punho.
Foram implantados eletrodos diretamente em
dois nervos do paciente. Sensores instalados na mão artificial detectam o nível
de força que ele exerce enquanto segura um objeto. Essa informação é
decodificada por um software e enviada aos eletrodos em forma de sinais
elétricos passíveis de serem interpretados pelos nervos. Dessa forma, o
paciente é capaz de controlar sua força em tempo real para se adequar às
características do objeto.
Para o médico Álvaro Baik Cho, do Grupo de
Mão e Cirurgia Reconstrutiva do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o grande avanço dessa
técnica é conseguir fazer uma interface direta da prótese com os nervos do
paciente. “Dessa forma, cria-se uma sensibilidade artificial. É o que eu já vi
de mais próximo a uma sensibilidade normal para o amputado, é realmente uma
coisa muito inovadora”, diz.
O método foi testado em um único paciente: o
dinamarquês Dennis Aabo Sørensen, que perdeu a mão esquerda há 9 anos em um
acidente envolvendo fogos de artifício. Durante a realização de mais de 700
testes, ele mostrou-se capaz de sentir o formato dos objetos e sua
consistência. “O feedback era totalmente novo para mim e, de repente, enquanto
estava fazendo os movimentos, eu podia sentir o que eu estava fazendo, em vez
de simplesmente olhar o que estava fazendo”, diz o paciente.
Para Cho, ainda deve demorar alguns anos até
que essa nova ferramenta esteja disponível no mercado. Primeiro, o experimento
deve ser repetido em um grupo maior de pacientes. Depois, deve haver um avanço
tecnológico que permita que a ferramenta se torne portátil. O aparelho que
decodifica os sinais captados pelos sensores ainda é grande e pesado.
Toque rudimentar
Uma tecnologia desenvolvida anteriormente já é capaz de fornecer ao amputado alguns sinais semelhantes ao tato, mas de maneira mais rudimentar. Trata-se da reinervação muscular orientada (TMR, na sigla em inglês). Cho explica que, por meio do reimplante dos nervos do membro amputado sobre os músculos do peito, é possível sentir uma resposta da pressão exercida pela prótese no peito. Porém, essa técnica não permite que o paciente tenha uma resposta de modulação da força em tempo real ao estímulo.
Fonte: G1
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