Parceria busca linhagem segura de células-tronco para tratar lesão medular
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Agência
FAPESP – A obtenção de linhagens seguras de células-tronco pluripotentes para serem
usadas, por exemplo, no tratamento de lesões medulares e doenças genéticas como
distrofia muscular é o principal objetivo de um projeto que reúne pesquisadores
da Universidade de São Paulo (USP) e da North Carolina State University, nos
Estados Unidos.
Os
primeiros resultados foram apresentados pelo professor Carlos Eduardo Ambrósio,
da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em
Pirassununga, durante a programação da FAPESP Week North Carolina, no dia 12 de
novembro.
“Estamos
trabalhando com linhagens de células animais adultas nas quais induzimos a
pluripotência [capacidade equivalente à das células-tronco embrionárias de se
diferenciar em qualquer tecido]. Nosso foco é obter uma linhagem segura, sem o
potencial de formar tumores, para ser usada em testes pré-clínicos e clínicos”,
contou Ambrósio.
O
projeto – coordenado por Ambrósio e por Jorge Piedrahyta, da Faculdade de
Medicina Veterinária da North Carolina State University – foi um dos aprovados
na mais recente chamada de propostas lançada no âmbito da University Global
Partnership Network (UGPN). O consórcio internacional formado pela USP, pela
North Carolina State University e pela University of Surrey, no Reino Unido,
tem o objetivo de fomentar a colaboração entre acadêmicos das três
instituições.
O
trabalho também está vinculado a um Auxílio à Pesquisa – Regular da FAPESP
coordenado por Ambrósio no Brasil.
Para
induzir a pluripotência em fibroblastos de cachorros, os pesquisadores usam a
técnica premiada com o Nobel de Medicina em 2012 e descrita em 2006 por Shinya
Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão. O método consiste em inserir na
célula adulta da pele certas proteínas – conhecidas como fatores de transcrição
– capazes de reprogramar o genoma celular.
Esses
fatores de transcrição ativam genes relacionados ao estágio embrionário da
célula e desligam outros genes que deveriam estar ativos após o amadurecimento
celular.
O
trabalho de adaptação da técnica para a obtenção de células-tronco
pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês) caninas foi descrito em
artigo publicado na revista Reproduction in Domestic Animals. Rendeu ainda um
artigo divulgado recentemente na revista Placenta.
“A
técnica descrita por Yamanaka propõe o uso de quatro diferentes fatores de
transcrição: OCT3/4, SOX2, KLF4 e C-MYC. Mas, ao mesmo tempo que isso induz a
pluripotência na célula, também a torna altamente teratogênica [capaz de
induzir a formação de tumores do tipo teratoma, composto de tecidos mistos]. O
que estamos tentando fazer agora, por enquanto em experimentos in vitro, é
obter uma IPS com um número reduzido de fatores de transcrição. Acreditamos que
isso possa diminuir o potencial carcinogênico da célula. Também pretendemos
gerar inúmeras linhagens brasileiras e americanas e realizar estudos da reação
do cultivo celular com diferentes fatores de crescimento, bem como realizar a
análise das sequências gênicas dessas células”, explicou Ambrósio.
Outra
estratégia do grupo é modular o genoma celular por meio de ferramentas como a
Talen (Transcription activator-like effector nucleases), grupo de enzimas que
possibilita ativar ou desativar genes de interesse. Esse trabalho está sendo
realizado na Carolina do Norte durante o doutorado de Natalia Juliana Nardelli
Gonçalves, com Bolsa da FAPESP e orientação de Ambrósio. A primeira etapa foi
realizada por Gonçalves durante estágio no exterior também com Bolsa da FAPESP.
Já
durante o mestrado de Helena Debiazi Zomer, com Bolsa da FAPESP e orientação de
Ambrósio, foram estudadas a obtenção de IPS de coelhos a partir de
células-tronco do tecido adiposo.
Banco
de células-tronco
Entre
os anos de 2008 e 2011, por meio de um Auxílio à Pesquisa – Apoio a Jovens
Pesquisadores, Ambrósio investigou diversas formas para obter células-tronco
mesenquimais – capazes de se diferenciar em alguns tipos de tecido, como ossos,
cartilagem e gordura – de diversos animais.
O
trabalho resultou na criação de um banco que reúne mais de dez linhagens de
células-tronco de cachorro, gato, ovelha e porco. Esse acervo hoje está ligado
ao Laboratório de Morfofisiologia Molecular e do Desenvolvimento da FZEA,
coordenado pelo professor Flávio Vieira Meirelles, e à nova Unidade Didática
Clínico Hospitalar, concebida com a intenção de gerar inovações terapêuticas
para fins veterinários.
“Além
da terapia celular, também testamos a terapia gênica, usando ferramentas de
edições de genes em culturas celulares de músculos de cães com distrofia
muscular. Tentamos, in vitro, corrigir o gene defeituoso causador da doença”,
explicou.
Na
avaliação de Ambrósio, a geração de conhecimento sobre manipulação de
células-tronco e edição de genes pode contribuir para o tratamento de doenças
crônicas e genéticas em animais, com aplicações futuras para humanos.
Por Karina Toledo
Fonte:
Agência
FAPESP e Blog Ser Lesado
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