A TV Globo, as novelas, os cegos e seus pretensos tuteladores
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Carta aberta dirigida aos
tuteladores de quem pensa, sente e aje
Prezados (as) senhores (as)
detentores dos meios de comunicação, particularmente à frente da maior rede de
informação do país, a Rede Globo de Televisão.
Nós, cidadãos cegos e de
baixa visão, habitantes desta nação em construção, em busca permanente por um
lugar em nossa sociedade, como seres individual e coletivamente úteis no
contexto social, político, econômico e cultural, queremos contribuir
decisivamente para que essa tão falada inclusão aconteça, na teoria e na
prática.
Essa inclusão somente
acontecerá quando houver uma interação virtuosa entre a sociedade que pode
influenciar nesse processo e aqueles que igualmente podem interferir nele. E
estamos aqui agora com esse objetivo.
De que forma? Sendo a Rede
Globo uma das maiores empresas de comunicação na América Latina,
particularmente na área de novelas, que alcançam com seu peso todas as unidades
da federação, resultando daí uma influência sóciocomportamental determinante,
gostaríamos de chamar a atenção para o fato de que as novelas que têm abordado
o cotidiano das pessoas cegas, América, Caras e Bocas (esta com o agravante de
ter sido interpretada por uma atriz igualmente cega), e a mais recente, Amor à
Vida, têm invariavelmente trazido prejuizos para a nossa imagem social,
considerando a figura caricata depreciante na trajetória do enredo dos
personagens cegos, de um modo geral, abobalhados ou geniozinhos, os dois extremos
igualmente negativos, em se tratando de que há uma forte tendência da sociedade
em generalizar e formar exteriótipos definitivos a nosso respeito, difíceis de
remover, mesmo com todo o elenco de informações.
Em face desse quadro de
estigmas a reverterem nosso favor, julgamos oportuno esclarecer:
1. Como formadora de
opinião, a Televisão deve ter o cuidado e a responsabilidade de consultar-nos -
os diretamente interessados - e não apenas aqueles que costumeiramente falam
por nós, sob pena de se cometerem, em cenas do cotidiano, equívocos
imperdoáveis à nossa imagem.
2. As redes de televisão
são, em nosso país, uma concessão que deve ser explorada e tratada com
sensibilidade e compromisso de quem cuida de um bem público. e fazendo justiça,
os senhores também sabem trabalhar os temas sociais e culturais nas novelas com
competência. Então não há razão para ser diferente quando se tratar do tema das
deficiências.
Houve um texto do Manoel
Carlos, nos parece ém Páginas da Vida, que tratou uma personagem com Síndrome
de Down, tema bem complexo, de nome Clara, com bastante simplicidade, abordando
na oportunidade a questão da escola regular e da escola especial, sem qualquer
preconceito aparente.
Seguindo esse exemplo, esse
relevante meio de comunicação tem muito a contribuir, no sentido de discutir
esses temas, como o da deficiência, de forma a mudar os paradigmas que levem a
romper as barreiras atitudinais que tanto entravam a nossa emancipação.
Na expectativa de um diálogo
permanente com essa empresa de comunicação, assinam todos os cidadãos,
consumidores e contribuintes cegos e cegas, apoiados (as) por suas entidades
locais e nacionais comprometidas com o fim de nossa tutela.
Saudações libertárias,
combativas e democráticas.
Fonte: Movimento - grupo de
discussão por email da ONCB - Organização Nacional de Cegos do Brasil e Blog Audiodescrição
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