Os desafios de Incluir sem excluir
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Por
Roberta Vieira de Vargas*
RESUMO
O
presente trabalho decorre de reflexões feitas sobre a inclusão de alunos com
NEE (Necessidades Educacionais Especiais). O objetivo foi analisar a situação
atual dos NEEs nas instituições de ensino, as reais dificuldades, o papel da
família e a receptividade por parte dos professores. A exploração deste assunto
sugeriu que tanto a escola, quanto a família deparam-se com problemas que
iniciam na inserção do aluno com NEE, a receptividade por parte dos colegas e
professor e a adequação do currículo que atenda as expectativas tanto do NEE
quanto da escola a fim de que possa destacar as potencialidades no lugar das
dificuldades. Isto se dará através de um conjunto de fatores que venham a
contribuir com o processo de inclusão de todos e não resulte para a exclusão
dos demais alunos que participam do processo.
INTRODUÇÃO
Considerando
o fato de este ser recebido como um dependente diferente ou incapaz visto pelos
demais como alguém que precisa ser atendido de forma especial, é preciso que
haja um cuidado para que os outros envolvidos no processo sejam cooperativos e
entendam seu papel social.
A
possibilidade da inclusão é a oportunidade de mudar atitudes, pois é só quando
nos deparamos com nossos próprios limites que vemos o quanto é importante
buscar alternativas para configurar de forma adequada uma educação inclusiva de
qualidade.
Só
ocorrerá uma educação inclusiva verdadeiramente comprometida global na
estrutura e funcionamento das instituições inclusivas, porque denominar-se
inclusiva não basta para ser de fato.
Somos diferentes, pensamos diferentes, agimos de modo diferente, sentimos diferente.
Somos diferentes, pensamos diferentes, agimos de modo diferente, sentimos diferente.
E
tudo isso porque vivemos e aprendemos de forma diferente, cada um tem uma visão
de mundo própria e com um significado que é fruto de suas associações.
Então,
o que ‘serve’ para alguns, não significa que deve servir para todos.
Muitos fatores estão envolvidos nessa mudança, entre eles a afetividade, o desenvolvimento das potencialidades e a transformação de alguns conceitos.
Para fins de entendimento serão usados os termos NEE (Necessidades Educativas Especiais).
Muitos fatores estão envolvidos nessa mudança, entre eles a afetividade, o desenvolvimento das potencialidades e a transformação de alguns conceitos.
Para fins de entendimento serão usados os termos NEE (Necessidades Educativas Especiais).
1. ASPECTOS LEGAIS DA INCLUSÃO
1.1.
O que diz a Constituição Federal?
A
nossa Constituição Federal elegeu como fundamentos da República a cidadania e a
dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. II e III), e como um dos seus
objetivos fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º,
inc. IV).
1.2.
A LDBEN, a Educação Especial e o Atendimento Educacional Especializado.
Segundo
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN (art. 58 e seguintes), o
atendimento educacional especializado será feito em classes, escolas, ou
serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos
alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular
(art. 59, ß 2º).
1.3.
A LDBEN e as inovações trazidas pelo Decreto 3.956/2001 (Convenção da
Guatemala)
Posterior
a LDBEN, surgiu uma nova legislação, que como toda lei nova, revoga as
disposições anteriores que lhes são contrárias ou complementa eventuais
omissões. Trata-se da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação, contra a Pessoa Portadora de Deficiência, celebrada na
Guatemala.
A Convenção da Guatemala deixa clara a impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência, definindo a discriminação como toda
A Convenção da Guatemala deixa clara a impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência, definindo a discriminação como toda
diferenciação,
exclusão ou restrição, baseada em deficiência, antecedente de deficiência,
conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou
passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento,
gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus
direitos humanos e suas liberdades fundamentais (art. 1º, nº 2, ‘’a’’).
1.4.
A declaração de Salamanca
Princípio
fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender
juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou
diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder
às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos
de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um
currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de
recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma
continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades
especiais encontradas dentro da escola.
2. O PAPEL DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA
A
primeira reação de um pai ao receber a notícia de que seu filho é uma criança
especial é: “Por que comigo?”, não diferente do professor; ‘O que faço agora?’’
Para
a família que recebeu a missão de educar e proteger esse sujeito com NEE,
segundo STOBAÜS (2004)² é preciso que seja mostrado o lado sadio.
A
escola e a família sabem que agora seu papel é fundamental e que a parceria é
muito importante. O apoio aos pais e professores por outros profissionais é
indispensável, mas há um fator ainda mais importante: a afetividade.
O aluno com NEE necessita ser acima de tudo respeitado, aceito e ter acesso aos mesmos materiais que os demais sem nunca deixar de ser recebido tanto pelos colegas, professores e funcionários de maneira afetiva, sem deixar de colocá-lo a par das regras de funcionamento da instituição. Ser um portador de NEE, não significa ter privilégios e para que ele sinta-se realmente incluído ele deve perceber que tem as mesmas responsabilidades que os demais colegas.
Já o papel do professor não é de ser um facilitador, mas um mediador da aprendizagem, apontar caminhos e fomentar o espírito investigativo em seus alunos, a fim de que este busque por seus próprios meios e tentativas solucionar seus problemas e acreditar que tem condições dentro de suas potencialidades de participar efetivamente do funcionamento da escola e do processo de construção do conhecimento.
O aluno com NEE necessita ser acima de tudo respeitado, aceito e ter acesso aos mesmos materiais que os demais sem nunca deixar de ser recebido tanto pelos colegas, professores e funcionários de maneira afetiva, sem deixar de colocá-lo a par das regras de funcionamento da instituição. Ser um portador de NEE, não significa ter privilégios e para que ele sinta-se realmente incluído ele deve perceber que tem as mesmas responsabilidades que os demais colegas.
Já o papel do professor não é de ser um facilitador, mas um mediador da aprendizagem, apontar caminhos e fomentar o espírito investigativo em seus alunos, a fim de que este busque por seus próprios meios e tentativas solucionar seus problemas e acreditar que tem condições dentro de suas potencialidades de participar efetivamente do funcionamento da escola e do processo de construção do conhecimento.
Um
número significativo de alunos com dificuldades de aprendizagem apresentam
também, dificuldades emocionais, sociais e de conduta. Por esta razão devem ser
considerados aspectos emocionais, afetivos e relações sociais. A inquietação e
a distração são apenas algumas manifestações observadas pelos alunos de
diferentes faixas etárias, como uma maneira de chamar atenção para si, sendo
que nas crianças com NEE como já se caracterizam por necessitarem de atenção
diferenciada e por estarem mais vulneráveis à consideração negativa dos
colegas, desempenham um papel importante nas dificuldades gerais de
aprendizagem e no rendimento.
Nesse
processo em que o objetivo é construir uma aprendizagem efetiva entre educandos
com dificuldades de aprendizagem e aqueles que não apresentam é importante
levar em conta a influência da família e da escola.
Concordamos com ³COLL (2004), uma vez desencadeado o processo, devemos pensar que se inicia um círculo sistêmico na qual cada efeito se converte e se potencializa no outro.
Concordamos com ³COLL (2004), uma vez desencadeado o processo, devemos pensar que se inicia um círculo sistêmico na qual cada efeito se converte e se potencializa no outro.
Embora
haja sérias discussões, a falta de um vínculo afetivo ou a falta de uma figura
de apego, segundo alguns autores, não é possível um desenvolvimento emocional e
social.
Todo
aluno espera encontrar na escola um ambiente acolhedor, uma figura positiva e
que seu sucesso venha através de algum esforço, para que seja realmente válido.
A criança com NEE tem dificuldade em conviver com críticas, são vítimas de suas
próprias expectativas, precisam ser valorizados e ouvidos, compartilhando uma
visão positiva do ser humano e de suas habilidades.
A
instituição tem que incluir, sustentar, acompanhar, apoiar, enriquecer e
oferecer tudo o que essa pessoa necessita em sua singularidade para ter êxito
no objetivo educativo de integrar.
Na
sociedade atual onde predomina a competição e o egoísmo, valores que tornam
mais difícil a aceitação de quem tem dificuldade, e até de quem não têm o fator
da empatia e o de colocar-se no lugar do outro, são fundamentais para o
fortalecimento da auto-estima do aluno.
A
primeira coisa que deve ser trabalhada no sujeito com NEE é a aceitação de sua
própria imagem. Ninguém é feliz se não for admirado e respeitado.
Visto por este ângulo, tanto os alunos incluídos com NEE e os demais, devem sentir-se acolhidos e importantes no processo, a fim destes se tornarem participantes trabalhando como uma equipe em busca de um objetivo.
Essa busca pela inclusão de todos é uma luta contínua, onde os que estão sendo incluídos devem sentir-se integrados e os demais não têm que sentirem-se excluídos e devem ser “olhados” da mesma forma.
Visto por este ângulo, tanto os alunos incluídos com NEE e os demais, devem sentir-se acolhidos e importantes no processo, a fim destes se tornarem participantes trabalhando como uma equipe em busca de um objetivo.
Essa busca pela inclusão de todos é uma luta contínua, onde os que estão sendo incluídos devem sentir-se integrados e os demais não têm que sentirem-se excluídos e devem ser “olhados” da mesma forma.
3. DESTACAR POTENCIALIDADES FRENTE ÀS DIFICULDADES
O
significado de potencial que consta nos dicionários4 nos diz que é tornar
potente; reforçar; possível; disponibilidade, possibilidade; virtualidade.
Considerando
essa afirmação, nada é mais significativo tanto para portadores de NEE ou não,
que sejam destacados pelo seu potencial e não pelas dificuldades que enfrentam.
Fazer predominar suas qualidades, sejam elas quais forem, torna o processo
educativo válido para esses educandos.
A
inclusão na prática não precisa somente ser entendida e aceita por todos, mas
valorizada em sua diversidade.
Não bastam espaços físicos adequados, currículo adaptado, professores bem preparados, equipe multidisciplinar, se não forem respeitados em suas ‘potencialidades’. Tanto os NEE com comprometimento físico ou cognitivo precisam de um atendimento que destaque aquilo que trazem de melhor.
Não bastam espaços físicos adequados, currículo adaptado, professores bem preparados, equipe multidisciplinar, se não forem respeitados em suas ‘potencialidades’. Tanto os NEE com comprometimento físico ou cognitivo precisam de um atendimento que destaque aquilo que trazem de melhor.
Relato
de experiências com NEE incluídos nos certifica que todos têm algo de especial,
como vivem o tempo todo tentando provar aos outros de suas capacidades,
demonstram uma preocupação com resultados que contribuam para sua aceitação no
grupo.
Mas
como essas pessoas fazem para destacarem-se no grupo? Segundo MALLUF(2007)5: A
inclusão é um processo em que o principal objetivo é encontrar as melhores
situações para que cada aluno se desenvolva dentro de suas potencialidades.
Podemos
concluir que o pleno desenvolvimento ou não das potencialidades que
caracterizam o ser humano vai depender da qualidade das relações sociais desse
meio no qual está inserido.
A
escola para a maioria dos alunos com NEE é às vezes a única atividade social
que ele participa principalmente os que se incluem nas classes mais baixas, e é
neste lugar que ele precisa ser envolvido nesse ambiente de tal maneira que se
sinta integrante e não apenas um ser incluído numa escola e atendido com
qualidade.
A
escola inclusiva é aquela que é para todos, implica num sistema que reconheça e
atenda as individualidades, respeite as necessidades de cada um, e de qualquer
um, mesmo daqueles que não apresentam nenhum tipo de limitação.
Muitos
desses alunos enfrentam dificuldades de locomoção, alimentação e atendimento
médico, esperam muito tempo para serem atendidos ou realizar exames.
Alunos
com NEE com comprometimento físico, geralmente são os mais prejudicados, pois
precisam mostrar que ter um problema físico não significa que tenha um atraso
cognitivo ou vice-versa.
Ouvimos
um relato de uma colega educadora certa vez, que gostaria de desenvolver mais
trabalhos de artes como recortes ou colagens com seus alunos, mas tinha receio
de provocar um mal-estar em seu aluno que tinha paralisia nos braços. Realmente,
muitas vezes nos deparamos com este tipo de indagação.
Como
proporcionar atividades que todos participem? Inclusive os alunos com
dificuldades físicas ou cognitivas?
O
ideal, já que falamos em inclusão é mobilizar todos os colegas, para um
trabalho em equipe.
Não
que os colegas realizem o trabalho por eles, mas que os orientem de maneira que
estes encontrem o melhor jeito de o fazerem.
Todo
sujeito tem um dom, há aqueles que não se saem muito bem nas tarefas que exigem
mais coordenação motora, mas têm muita facilidade nas atividades de raciocínio,
e outros o contrário.
Nós,
professores, pecamos muitas vezes em não tentar, pelo menos, desafios,
menosprezando a capacidade de nossos alunos ditos “normais ‘‘, quiçá com os
NEE”!
Com
certeza, estes esperam ser desafiados, para nos mostrar seu potencial, suas
capacidades e quem sabe nos surpreender com os resultados.
Na
realidade, todos nós precisamos provar a nós mesmos do que somos capazes, mesmo
inconscientemente, o fazemos, é tão inata ao ser-humano essa busca pelo
reconhecimento, que se torna natural, uma vez que cada um traz uma genética
própria, temos habilidades complexas, atitudes tão pessoais, que resultam em um
conjunto de ações que determinam do que realmente somos capazes.
Que
possamos ser seres potenciais, sejamos anormais, mas sejamos humanos no sentido
de solidários!
4. INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO?
Confunde-se
inclusão com integração, um aluno inserido numa classe regular que não interage
com os demais colegas, está somente integrado em uma escola que se diz
inclusiva, mas, que não proporciona condições para a melhoria da educação em
geral.
Há
uma ilusão a respeito da inclusão. A sociedade exclui para incluir e esta
transmutação é condição da ordem desigual, o que implica o caráter ilusório da
inclusão. O acesso de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino
regular é admitido àqueles que:
(…)
possuem condições de acompanhar as atividades curriculares programadas do
ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais. (MEC, 1994: p.19)
Inclusão
e integração têm significados parecidos, filosofias diferentes, mas, objetivo
semelhante.
Uma
verdadeira inclusão exige rupturas em seu sistema e envolvem todos os
excluídos, a integração pede concessões e seleciona somente indivíduos
excluídos aptos.
Segundo
SASSAKI:
“Inclusão
social é o processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência procuram
adaptar-se mutuamente tendo em vista a equiparação de oportunidades e,
consequentemente, uma sociedade para todos”.
(Sassaki, 1999, p. 167).
(Sassaki, 1999, p. 167).
A
inclusão beneficia todas as pessoas e não só as com deficiência, porque a
verdadeira inclusão é para todos e não só para os excluídos que provarem estar
aptos.
Entende-se
que a escola precisa re-significar suas funções políticas, sociais e
pedagógicas, adequando seus espaços físicos, melhorando as condições materiais
de trabalho de todos os que nela atuam, aprimorando suas ações para garantir a
aprendizagem, buscando atender as necessidades de qualquer educando, sem
discriminação. As equipes devem trabalhar interdisciplinarmente, o espaço deve
ser adequado (para que crianças portadoras de paralisia cerebral ou qualquer
outra delimitação que necessite de cadeira de rodas, possam se locomover com
autonomia), que os tempos de elaboração e apropriação dos conteúdos sejam
diferenciados e que as modalidades de assimilação de aprendizagem tenham
compassos diferentes.
Todos
envolvidos no processo educativo necessitam da mesma atenção, alguns precisam
de um olhar mais atento, mas não mais importante do que os demais.
4.1
RESISTÊNCIAS EM RELAÇÃO À INCLUSÃO
Tudo
aquilo que soa como novidade é um processo lento e sofrido, mas não quer dizer,
que seu resultado não será positivo.
Ao
analisarmos as resistências, deve-se examiná-las a partir da argumentação
daqueles que resistem.
Ex:
Quando um professor diz:- “Não quero esse aluno na minha sala”! ’’, podemos
interpretar sua recusa como má vontade, recusa medo, negação em
Colaborar…
Ou como o desejo de contribuir para o sucesso da aprendizagem do aluno, para o
qual se sente desqualificado.
Como
vimos, não necessariamente, está se esquivando de enfrentar um desafio, apenas,
poderá estar em dúvida quanto a sua capacidade de conduzir um processo
educativo que exija mais embasamento e preparação.
Porque
muitas vezes, precisamos construir o caminho por nós mesmos, não há um setor de
apoio na escola, geralmente em escola públicas, nem mesmo o SOE (Serviço de
Orientação e Supervisão) existe de fato, o que ocorre são funcionários que
dividem a carga horária entre duas ou três escolas, ficando pouco tempo em cada
uma delas.
Nem
sempre a recusa caracteriza-se por negação, mas por uma série de fatores que
acabam gerando uma expectativa prejudicial tanto no professor que receberá o
aluno, como na família. A família, às vezes, espera encontrar naquela escola ou
naquele profissional, o que sempre buscou. Alguém que atenda a demanda e que
corresponda às expectativas tanto do aluno incluído, quanto as suas próprias.
Portanto,
como dito anteriormente, antes das reflexões, é preciso ouvir os argumentos das
partes envolvidas. Nem sempre a boa vontade é suficiente, ela é na verdade o
primeiro passo, mas não atenderá todas as necessidades se não houver um
aprimoramento e um conhecimento mínimo das dificuldades que serão enfrentadas,
e das potencialidades que poderão e deverão ser exploradas.
Conforme
dados da pesquisa feita com professores da rede pública do município de Viamão,
que será anexada posteriormente através de gráfico dos resultados, grande parte
dos profissionais, mesmo alguns, tendo freqüentado cursos de atualização,
sentem-se amedrontados em receber alunos com NEE. Sentem-se despreparados, mas
conscientes que não poderão negar-se de atendê-los, pois, como funcionários
estariam desrespeitando uma legislação que ampara todos os sujeitos que
apresentam NEE.
Não
que isso seja uma desculpa para a resistência, mas funciona como imposição de
um papel que nem todos estão preparados para exercer.
A
inclusão de alunos com necessidades especiais tornou-se para alguns educadores
um problema para a escola, que antes não tinha, porque antes eles estavam fora
do ambiente escolar, passaram a ser visíveis, evidenciando não a inclusão, mas
a passagem de um estado de negação para um estado de problematização.
Esse
é um desafio que todos os professores devem se propor a enfrentar: o de
considerar que a homogeneidade é ilusória, e que estas crianças deverão ser
demandadas a partir do estágio em que se encontram sem que se funda o mito de
que ‘’são todos iguais’’.
5. PESQUISA: REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES ATUAIS DAS
ESCOLAS REGULARES PÚBLICAS DE VIAMÃO/RS FRENTE O DESAFIO DA INCLUSÃO
Tendo
como base tudo o que já foram expostos, os pontos ressaltados na pesquisa a
seguir, são dados coletados em pesquisa feita em escolas regulares da rede
pública do município de Viamão/RS, procurou-se além de conhecer a realidade das
escolas, ouvirem a opinião dos participantes desse processo, professores e
equipe diretiva, conhecerem as reais condições que estas oferecem aos alunos
inclusos e qual suporte a mantenedora (SME do município) oferece em termos
pedagógicos.
Temos
a consciência das dificuldades de se fazer uma educação inclusiva de qualidade
e que ofereça condições a todos os envolvidos. Tanto corpo docente quanto
discente e pais, recursos pedagógicos e infra-estrutura adequada para receber
de maneira satisfatória esses alunos que buscam participar de um processo que
por direito também é deles, de forma efetiva, sistemática e com objetivos
definidos.
5.1
METODOLOGIA
Durante
os meses de setembro a novembro de 2009, realizou-se uma pesquisa qualitativa
com aplicação de questionários e realização de observação com educadores e
equipe diretiva de escolas da rede pública do município de Viamão/RS, com o
intuito de constatar como ocorre efetivamente a inclusão de alunos com NEEs,
como os professores estão sendo capacitados, como estes se sentem frente ao
novo desafio e quais os recursos pedagógicos e físicos as escolas dispõem.
Foram
distribuídas questionários entre alguns professores da rede estadual e
municipal de Viamão. Muitos questionários não foram devolvidos, então,
utilizamos além da observação de momentos em aula de alunos com NEE, e-mails
que mandamos para algumas escolas. Assim como as entrevistas, alguns e-mails foram
retornados outros não.
As
respostas dos questionários serão comentadas nas reflexões sobre os resultados
obtidos.
5.2
ANÁLISES DOS DADOS COLETADOS
Para
que haja um melhor entendimento, achamos por bem apresentar os resultados da
pesquisa em eixos, onde cada um deles trata de um foco em relação à temática
apresentada.
O
primeiro eixo da pesquisa denominou ‘’Escolas Inclusivas’’ trata das escolas
que já vêem realizando a inclusão de alunos com NEEs nos últimos três anos.
Nessa parte da pesquisa investigamos quantas escolas da rede já têm em seu
quadro discente alunos com NEEs? Há quanto tempo essas escolas realizam esse
trabalho? Como se sentem até o momento em relação ao processo de inclusão?
O
segundo eixo da pesquisa denominado ‘’Suporte pedagógico’’, focamos como é o
currículo nessas escolas? Como funciona a avaliação para os alunos NEEs? Que
tipo de capacitação é oferecido aos educadores?
O
terceiro eixo da pesquisa denominado ‘’Desafio de Educar’’ foca primeiramente a
opinião dos professores sobre a situação atual da inclusão nas escolas. Qual a
reação ao saberem que terá em sua turma um aluno com NEE? Qual apoio os
educadores buscam quando tem alguma dificuldade? Como se sentem no papel de
incluírem os alunos com NEEs?
5.2.1
EIXO 1: CONHECENDO A REALIDADE DAS ESCOLAS INCLUSIVAS DO MUNICÍPIO
Nesse
primeiro eixo da pesquisa constatamos que das 104 escolas públicas do
município, no qual são 73 municipais e 31 estaduais, apenas 20% das escolas não
possuem alunos com NEEs, onde podemos destacar que se incluem nestas, as
escolas de zona rural, indígenas e técnicas que por possuírem um número
reduzido de alunos e situarem-se em lugares mais afastados não tem se registros
de alunos incluídos.
Tendo
como base as 88 escolas públicas do município que já participam do processo de
inclusão, através do gráfico dois, podemos constatar que 25% das escolas
inclusivas já fazem esse trabalho a pelo menos cinco anos, quando praticamente
iniciou-se esse processo de adequação no município. Do mesmo modo 75% dessas
escolas iniciaram a inclusão de alunos com NEEs a partir do ano de 2004. O que
demonstra o crescimento da inclusão no município de forma considerável e
efetiva.
No
gráfico quatro chamamos a atenção a um fator tão importante e amplamente citado
neste artigo. A importância de termos um currículo adaptado às necessidades dos
alunos incluídos, que obedeçam a critérios onde estes, possam participar
efetivamente do processo sem sentirem-se privilegiados ou prejudicados.
É
imprescindível que se faça uma adequação dos planos de estudo anuais
determinados para cada ano ou série, traçando objetivos e adequando a
metodologia às capacidades reais de cada indivíduo incluso.
Como
podemos observar no gráfico cinco a avaliação em 80% das escolas inclusivas
possuem uma avaliação diferenciada, de acordo com as condições que cada aluno
com NEEs possui. Os outros 20% admitem que possuem uma única avaliação, mas,
que são respeitados os limites de cada um.
Para
que a escola faça um trabalho de avaliação justo e eficaz, ela precisa adotar
critérios de avaliação que levem em conta as individualidades e que não
comparem o desenvolvimento de aluno especial com padrões pré-estabelecidos, mas
apenas com seu próprio desempenho, pois cada progresso é mais uma vitória numa
batalha que se iniciou no momento do nascimento, que para uma criança com NEE
inserir-se num mundo cheio de desafios é como enfrentar um inimigo todos os
dias, esse inimigo pode estar vestido de indiferença, de preconceito, de
desconhecimento e tantas outras roupagens que fazem dele um desafio a serem
vencidos todos os dias. No que se refere à avaliação, Vasconcellos (2003)6 faz
o seguinte alerta: mudar o paradigma da avaliação não significa ficar em dúvida
se “devo reprovar ou dar uma ’empurradinha’”, qualquer uma dessas posturas é cruelmente
excludente, pois é preciso descobrir as condições de aprendizagem de cada aluno
e, além disso, “não parar para atender ao aluno e suas necessidades é um
autêntico suicídio pedagógico” (p. 54, 58, 77).
No
entanto, o atendimento desses alunos em classe comum pode representar sua
exclusão sempre que a avaliação, uma entre as variáveis que interferem no seu
processo de escolarização, não for usada para promover a aprendizagem e partir
das condições próprias de cada aluno (Hoffman, 2005).
Durante
os meses de abril a setembro de 2008, a Prefeitura Municipal de Viamão
juntamente com a PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul)
e MEC (Ministério da Educação e Cultura), ofereceu a 100 professores da rede
municipal, um curso de 120 horas/aula, as sextas à noite e sábados pela manhã,
sobre Transtornos Evasivos do Desenvolvimento, do qual eu participei. Nesse
curso, foram trabalhados assuntos como, processos neurológicos do conhecimento,
síndromes, autismo, hiperatividade, estimulação precoce e também esclarecimento
de dúvidas dos professores que possuíam alunos com NEE em sua turma.
Dos
100 professores da rede, cerca de 70 concluíram o curso. Algumas escolas não
tiveram representantes, ou professores multiplicadores. Avalio o curso enquanto
educadora como uma iniciativa válida de se dar um suporte aos educadores, mas
como tudo o que é bom, poderia ter continuidade,
Aprofundamento,
já que trata de um assunto amplamente discutido e cheio de amarras e
questionamentos.
Temos
a consciência que não existe uma receita de como fazer, mas, iniciativas como
essa, são de extrema importância, pois abriu um leque de possibilidades, antes
tão limitado, principalmente para mim, que paralelo a isso, freqüentava o curso
de especialização em Psicopedagogia.
O
gráfico seis foi feito com base no número total de escolas da rede estadual e
municipal de Viamão, que somam o total de 104 escolas.
No
gráfico sete a estatística foi feita sobre a quantidade de respostas positivas
do gráfico seis.
5.2.3
EIXO 3: O DESAFIO DOS EDUCADORES FRENTE À INCLUSÃO
Segundo
a pesquisa, 59% dos professores já são conscientes da possibilidade de terem
inserido em sua classe, alunos com algum tipo de necessidade especial, seja ela
orgânica ou permanente, foi o que também foi relatado nos questionários. Existe
um amparo legal para a inclusão, e existem professores que se preocupam em
fazer com que essa lei seja cumprida, e para isso, sabem da importância de
aliar afetividade, conhecimento e comprometimento para que ocorra de verdade.
Dentre
os entrevistados, existem cerca de 32% que sentem a inclusão como um desafio.
Assim como é para o educando é também para o profissional que o recebe, pois,
terá que dar conta de incluir esse sujeito, sem também excluir os demais.
Dividir o foco de atenção e planejar-se de forma flexível para que contemple as
duas ou três demandas de aprendizagem.
É
claro que tudo o que é imposto, gera certa resistência, assim como falamos
várias vezes, cada um tem sua particularidade. E cerca de 8% dos profissionais,
demonstram alguma forma de resistência em atender uma turma multiforme. Também
são conscientes da legislação e sabem que se determinado, terão de fazê-lo, mas
enquanto não acontece, tentam de alguma forma esquivar-se desse novo desafio.
Tendo
como base os gráficos nove e dez, cabe observarmos que a maior queixa por parte
dos educadores é a falta de um assessoramento pedagógico que de conta de
responder algumas dúvidas, encaminhar alguns casos especiais, ou até mesmo,
trocar atividades ou idéias úteis à prática diária.
Dentre
esses, 68% dizem buscar apoio, freqüentando cursos, assistindo palestras,
adquirindo obras sobre os temas, pesquisando… A fim, de conhecer seu aluno
especial na totalidade. O senso comum nos pinta uma realidade sobre certos
problemas que nos bitolam, por isso, causa tanto temor. Quando se pesquisa,
procuramos conhecer a fundo as características de cada caso, as informações nos
dão segurança, não que isso vá responder a todas as perguntas, mas, poderá nos
preparar para iniciar o processo de ensinar e aprender, mais organizado e
norteando os caminhos a seguir.
6. CONSIDERAÇÕES GERAIS COM CITAÇÕES
“Temos
o direito de sermos iguais sempre que a diferença nos inferiorize; e temos o
direito de sermos diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize.”
Boaventura
Souza Santod, 2005.
Desde
que o termo inclusão de pessoas com Necessidades Educativas Especiais,
tornou-se tão presente em nossa prática enquanto educadores há uma extensa
bibliografia referente ao assunto, mas em nenhum deles, encontremos todas as
respostas.
É
preciso que se procure primeiro, entender que inclusão não é apenas acesso à
educação. Mas um processo onde um indivíduo com NEE, que culturalmente não
faria parte deste meio encontre condições reais de desenvolvimento. Um dos
grandes erros da nossa educação está na supervalorização das habilidades
lingüísticas e lógico-matemáticas e consequentemente uma falta de conhecimento
das diferentes áreas de altas habilidades.
Se
um indivíduo não consegue aprender matemática, é taxado de incapaz, mesmo sendo
ótimo aprendiz em outra área.
Uma
escola que se preocupe realmente em incluir deve primar pelo desenvolvimento
global do indivíduo com dificuldades na aprendizagem, desenvolvendo um trabalho
que estimule a solidariedade e o espírito de equipe.
Incluir
de maneira efetiva significa proporcionar estratégias que contemplem todos os
envolvidos no processo, alunos ditos ‘’normais’’ e com NEE, a fim de que todos
tenham espaço para o desenvolvimento de suas habilidades, dentro de suas
limitações.
Desde
a proclamação da Declaração da Salamanca (1994), que constituiu uma mudança nos
paradigmas da Escola Integrativa para Escola Inclusiva, vem se tentando uma
lenta caminhada, com muitos obstáculos, entre eles: o preconceito, a falta de
recursos, a falta de preparação docente, falta de adequação dos currículos,
erros conceituais, supervalorização da desvantagem…
A
idéia de que simplesmente é um direito incluir um aluno com NEE, na escola
regular, não significa que este estará incluído. Ser matriculado é apenas o
primeiro passo, a seguir virão outros que dependerão tanto do indivíduo com
NEE, como dos profissionais envolvidos e os colegas.
Incluir
sem excluir, no processo ensino aprendizagem, significa contemplar a todos, sem
excluir de nenhuma forma os elementos do processo.
Ter
um aluno com NEE, em uma classe com 30 crianças dita “normais’, não significa
que esta está incluída, ela pode estar meramente ‘‘inserida” ou integrada’’.
Que
este artigo sirva para que pensemos em um futuro onde a inclusão seja tão
natural, quanto é à entrada de todo cidadão em idade escolar, independente de
suas limitações, raça, religião e nacionalidade.
Vivemos
em um país onde se criam leis para tudo. Mas uma lei não tem o poder de acolher
uma criança, de nada adiantarão as leis se não houver pessoas que se disponham
a acolher as diferenças.
Esse
enfrentamento com a realidade, com as dificuldades será difícil, desafiadora e
diria até, de certa forma, desconfortável. Cabe a nós decidirmos qual posição
tomar. Seja de meros expectadores ou de cidadãos conscientes e humanizados a
ponto de estender a mão e compreender que ninguém está imune e que o mundo foi
feito para todos.
3
COLL, César. Marchesi, Álvaro, Palácios, Jesús. (2004). Desenvolvimento
Psicológico e Educação: Transtornos do desenvolvimento e necessidades
educativas especiais. 2ª ed. Porto Alegre, RS: Artmed.
4
Dicionários : Aurélio de Língua portuguesa, Cegalla, Domingos Paschoal.
5
MALLUF, Maria. (2007). Inclusão escolar e Psicopedagogia. 3º Congresso
internacional sobre dificuldades de aprendizagem e inclusão escolar. Realizado
em Salvador, Bahia de 04 a 06 de maio de 2007. Disponível em:
http://www.segmento-ba.com.br/eventos/ arquivos. Acesso em 25 set.2008.
6
Maiores informações consultar: VASCONCELOS, Celso dos Santos – Avaliação da
Aprendizagem – Práticas de Mudanças: Por uma Práxis Transformadora, 7.ª edição,
Libertad, São Paulo,2005.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO,
Rosita Edler. (2005). Educação Inclusiva: Com os pingos nos ‘is’. 3ª ed. Porto
Alegre, RS: Mediação.
COLL,
César. Marchesi, Álvaro, Palácios, Jesús. (2004). Desenvolvimento Psicológico e
Educação:Transtornos do desenvolvimento e necessidades
educativas
especiais.2ª ed.Porto Alegre, RS: Artmed.
HOFFMANN,
Jussara – Avaliar para Promover: As Setas do Caminho- Mediação, Porto Alegre,
2005.
HOFFMANN,
Jussara – O Jogo do Contrário em Avaliação- Mediação, Porto Alegre, 2005.
MALLUF,
Maria. (2007). Inclusão escolar e Psicopedagogia. 3º Congresso internacional
sobre dificuldades de aprendizagem e inclusão escolar. Realizado em Salvador,
Bahia de 04 a 06 de maio de 2007. Disponível em:
http://www.segmento-ba.com.br/eventos/ arquivos. Acesso em 25 set.2008
São
Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica –
Referencial sobre avaliação da aprendizagem de alunos com necessidades
educacionais especiais . Secretaria Municipal de Educação – São Paulo : SME /
DOT, 2007.112p. : il.
STOBAUS,
Claus Dieter, MOSQUERA, Juan José. (2004). Educação Especial: em direção à
educação inclusiva. 2ª ed. Porto Alegre, RS: Edipucrs.
UNESCO.
– Declaração de Montreal. Organização Mundial de Saúde, 2004.
______.
– Declaração de Salamanca e Linhas de Ação para satisfazer Necessidades
Educativas Especiais. Salamanca, Espanha, 1994.
VASCONCELOS,
Celso dos Santos – Avaliação da Aprendizagem – Práticas de Mudanças: Por uma
Práxis Transformadora, 7.ª edição, Libertad, São Paulo, 2005.
*
Pedagog – Habilitada em Educação Infantil , Professora da rede municipal e
estadual na cidade de Viamão/RS e Pós-Graduanda em Psicopedagogia Institucional
pela Cesuca –Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha
Fonte:
Revista O Professor
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