Entrevista com Dudu Braga

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Do nascimento com glaucoma à perda da visão e à carreira de sucesso

Bem humorado e muito simpático, Roberto Carlos II, o Dudu Braga - filho do Rei Roberto Carlos, recebeu a equipe da Revista Incluir em seu escritório, em São Paulo, para uma entrevista exclusiva.

Confira trechos da conversa:

Revista Incluir: Como foi sua infância e a convivência com o glaucoma?
Dudu Braga: Eu não tive uma convivência muito forte com o glaucoma porque desde muito novo eu passei por diversas cirurgias. Só pra você ter uma ideia, eu tinha 20 dias quando fiz minha primeira cirurgia. Ao todo, foram sete cirurgias nos primeiros dois anos de vida. Fui operado na Holanda, quando eu tinha três anos. Eu tinha uma miopia de oito graus e, por isso, a cada seis meses ia ao oftalmologista para medir a pressão dos olhos. Mas, graças a Deus, eu nunca senti dor.
Claro que isso me criava uma certa dificuldade de visão, mas, não falta de visão, tanto que eu tirei minha carteira de motorista e dirigi até os 22 anos. Nunca vou me esquecer que na minha habilitação constava que eu era apto com lentes corretivas e, só pra constar, minha habilitação ainda ficou válida por mais 16 anos após a perda da visão.

RI: A miopia te prejudicou no processo educacional?
DB: De um modo geral não. Eu sempre quis ser da turma do fundão, mas não dava porque eu tinha que sentar mais perto da lousa. Então, dependendo da letra da professora, eu tinha que sentar mais na frente. Me cansava um pouco ler muitas páginas e, às vezes, eu sentia os olhos cansados. Mas, graças a Deus, eu não tive nenhum problema com a educação por causa disso.

RI: Você sabe quantas cirurgias fez para tentar corrigir o glaucoma?
DB: Foram 16 cirurgias ao todo.

RI: Em algum momento você pensou que poderia perder totalmente a visão?
DB: Eu nunca soube que poderia perder totalmente a visão. É até engraçado porque eu adorava jogar bola e o jogador Tostão teve um descolamento de retina por causa de uma bolada. Meu pai era preocupado pra caramba e não queria que eu jogasse futebol. Mas, como ele tinha se separado da minha mãe, e eu morava com ela, então eu jogava.

RI: Existia uma superproteção por parte dos seus pais?
DB: Superproteção não, mas sempre existiu um cuidado. Meus pais sempre me cobraram muito com relação aos estudos. Mas eu nunca fui da pá virada e também fazia minha parte. Me lembro de uma situação, em que eu pedi um copo dágua via interfone, para um empregado da casa e meu pai, sem dar esculacho, me disse que não era mais para fazer aquilo e me fez buscar o copo dágua. Nunca mais repeti isso e aprendi a lição.

RI: E depois que você perdeu a visão?
DB: Aí sim. Comecei a perder a visão em 1992. Minha mãe já tinha falecido em 1990, e entre 1992 a 1994, eu fiquei em tratamento em Houston (Texas|EUA) e quando retornei ao Brasil aí eu senti. Estava tudo muito fácil, eu estalava os dedos e as coisas aconteciam. Me lembro que liguei pra ele numa manhã ensolarada de domingo, me lembro muito bem disso, e levamos um papo difícil. Eu liguei pra ele e falei: paizão eu sei que você me ama, eu te amo, mas não dá mais para eu viver assim. Não tem universidade para ser deficiente visual. Só vou descobrir onde eu posso chegar saindo com a minha bengala, ou com um cão-guia, se eu assim escolher. Preciso tropeçar, cair... me arriscar. E ele aceitou. Claro que durante todo o tratamento rolou uma superproteção natural. Mas depois ia continuar. Então entramos nesse acordo que foi superbom pra mim.

RI: Você perdeu a visão muito jovem e aconteceu gradualmente... como foi o processo?
DB: Foi uma situação bem difícil porque eu estava bem, voltando da praia, dirigindo meu carro e, num prazo de dois dias, eu estava enxergando apenas da metade para baixo. Aí foi um processo de dois anos, eu tentando recuperar minha visão. Ali foram mais oito cirurgias, mas acho que para mim foi bom porque eu conheço alguns amigos que perderam a visão de uma vez, em acidente, e é bem mais difícil, enquanto a minha foi como um fade out, sabe... como quando a música está acabando.

RI: O que foi mais difícil?
DB: Pra ser sincero, eu sempre soube lidar muito bem com meus problemas. Claro que foi muito difícil ficar sem enxergar, mas eu sabia que podia trabalhar, porque eu já trabalhava desde os 17 anos e porque eu tinha um certo tino comercial. Mas eu perdi uma noiva no meio do caminho dessa história toda e isso, para mim, foi muito duro. Apesar de tudo, hoje vejo que isso foi bom também porque ela foi sincera. Por fim, perder a noiva foi muito mais difícil. Mas também foi difícil enfrentar meus amigos, porque passei dois anos fora e todos tinham um olhar super curioso pra mim. Mas, fora isso, logo já voltei ao trabalho e tudo foi to- mando seu lugar.

A entrevista na íntegra, você confere na edição deste mês da Revista Incluir!

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